sábado, 9 de março de 2013

O Redentor rejeitado



"Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer" (Isaías 53:3). É impressionante considerar que o redentor da humanidade teve que vir ao mundo não somente sem ser anunciado, mas não reconhecido e indesejado. Tivesse sido deixado à nossa iniciativa, nunca teríamos, naturalmente, lhe pedido que viesse. E quando, pelo divino cuidado, ele veio, não tivemos sequer o bom senso de reconhecer nele nossa única esperança de escapar ao desastre. Ele era o criador do universo, e por seu poder todas as coisas são mantidas (Colossenses 1:16-17; Hebreus 1:2-3). Somente pela sua força os homens podiam respirar (Atos 17:25-27), e no entanto, quando ele veio ao mundo, eles nem mesmo o reconheceram (João 1:10). Você poderia pensar que, quando Deus desnudou seu santo braço diante das nações, na pessoa de seu único Filho, nós teríamos tido sensibilidade suficiente para ao menos identificá-lo. Mas Isaías disse que isso não aconteceria, e não aconteceu. Quando o Messias viesse, o profeta disse, ele seria desprezado como um embaraço, julgado simplesmente indigno de notícia. "... como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso" (53:3).

Mas se é notável que o mundo em volta não ficou impressionado com o Filho de Davi, é absolutamente notável que ele foi rejeitado pela nação de Israel. Ele era o seu Messias, o ungido de Deus, o objeto de sua aspiração nacional, o consolador, apaixonado sonho de seus corações. Desde o tempo de Abraão eles tinham alimentado a esperança de sua vinda. Entretanto, quando ele veio, até eles o rejeitaram (João 1:11). É incrível! Mas Isaías disse que isso haveria de acontecer, e aconteceu. A advertência não mudou nada. Por fim, até os chefes espirituais da nação ficariam no monte onde o crucificado estava exalando os últimos suspiros e atirariam ao seu rosto as próprias palavras que Davi tinha profetizado: "Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer" (Salmo 22:7-8; Mateus 27:43).

A maioria de nós imagina que teríamos sido mais sensíveis, reconhecendo facilmente o Servo de Deus. Mas a pergunta é: Como? Por aquela ficção dos artistas medievais, a auréola em volta de sua cabeça? Pelo seu dinheiro? Sua óbvia nobreza? Seu poder político? Como poderiam pessoas como nós, fascinadas e ocupadas com tantas superficialidades estúpidas, ter visto a verdadeira beleza de sua absoluta santidade e amor? Isaías descreveu a recepção que ele teria da maioria, se não de todos nós. E é indescritivelmente ultrajante.

Mas nos versículos 4-6 Isaías descreve as perturbadoras reflexões que viriam a ocupar a mente de alguns daqueles que tinham tratado o ungido do Senhor com tal desdém. "Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido" (Isaías 53:4). Era inclinação natural da mente judia julgar que os infortúnios de um homem fossem o resultado de sua própria iniquidade, um homem mau acabando mal (Jó 4:7-9; João 9:1-2). Assim aqui: "nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido". Sem dúvida os principais sacerdotes que maquinaram a execução de Jesus aquietavam quaisquer dúvidas que pudessem ter, dizendo a si mesmos que um homem bom não poderia chegar a tal fim e, se ele fosse realmente o Filho de Deus, eles jamais poderiam tê-lo tratado tão mal. Mas a pureza deste inocente sofredor, e a mensagem clara do sistema sacrificial deles, finalmente traz o remanescente judeu acordado à percepção de que sua agonia fala, não da feiura de seus pecados, mas dos deles. "Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades" (Isaías 53:5). Por fim, eles veriam espelhada nos horrores da cruz a imensidade de sua própria perversidade. Assim todos nós temos que ver. Se isto foi o que custou a Deus e seu ungido para propiciar nossos pecados, eles devem ser mesmo negros. Precisamos olhar atentamente para o sofrimento do Servo, até que verdadeiramente vejamos a nós mesmos. As "nossas enfermidades" no versículo 4 são entendidas por Mateus, que diz que esta mesma passagem foi cumprida quando Jesus libertou o possesso do demônio e curou os doentes (Mateus 8:17). Mas é preciso ser lembrado que é a ligação das doenças físicas e a morte com o pecado (veja Gênesis 3:17-19) que torna significativo o serem carregados pelo Messias. Ele curou um homem paralítico, não para que os homens soubessem que ele podia curar os doentes, mas para que soubessem que ele poderia dizer, com certeza, "... teus pecados estão perdoados", e para que todos pudessem "saber que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados..." (Marcos 2:9-11). É claro que o pecado era o objeto da preocupação do Messias, mas a solução do problema do pecado afasta finalmente todas as misérias resultantes que nossa iniquidade trouxe sobre nós (1 Coríntios 15:25-26).

O pensamento mais potente nestes versículos é que Deus, através de Seu Servo escolhido, queria suportar as cargas que nós, por nossa própria teimosia, temos suportado sozinhos. Israel não era uma vítima inocente, nem ignorante. Nós também não somos. Como ovelhas distraídas, todos temos seguido, sabendo e querendo, "nosso próprio caminho". E a "paz" e a "cura" do espírito que buscamos tão desesperadamente foi comprada ao preço dos castigos e dos açoites que Jesus suportou.

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