quinta-feira, 13 de março de 2014

Quanto vale a oração?

O autor da Carta aos Hebreus afirma que “durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão” (Hb 5.7). 

A nós, não custa lembrar: “Deus espera por nossas orações”.
O estudo bíblico de hoje foi desenvolvido a partir do artigo A Vida de Oração de Jesus, do pastor Elben César, publicado na edição 336 da revista Ultimato.

Texto básico:

Lucas 11.1-13


Textos de apoio

Mc 1.35-39
Lc 5.12-16
Lc 6.12-16
Lc 9.18, 28-36
Jo 17.1-26
Mt 26.36-46


Introdução

“Quanto vale a oração?” Para refletir nesta pergunta, vamos estudar o valor da oração na vida de Jesus. Se para ele, que era um com o Pai (Jo 10.30), a oração tinha profundo valor, quanto mais deve ter para nós! 


Os críticos dizem que a oração é válida porque é emocionalmente saudável para quem ora. Seria este o único valor da oração para Jesus? O autor da Carta aos Hebreus afirma: “Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão” (Hb 5.7, NVI). 

Certamente que, para Jesus, a oração não somente proporcionava o benefício emocional, mas produzia efeito concreto em sua vida e na vida de outros. Deus o atendia, respondendo, de fato, às suas orações.

Para entender o que a Bíblia fala
 

a) O exemplo sempre vem primeiro. Porque viram Jesus orando, os discípulos pediram que ele os ensinasse a orar (Lc 11.1). Que assuntos devem ser abordados quando oramos, de acordo com a oração-modelo deixada por Jesus (Lc 11.2-4; cp. Mt 6.9-13)?
b) Logo a seguir, Jesus continua seu ensino sobre a oração contando uma instigante parábola (Lc 11.5-10). Como devemos interpretá-la? [Lembre-se de que Jesus também insistia em suas orações. No cenáculo, ele orou repetidas vezes por seus discípulos (Jo 17.9, 11, 15, 17, 20-21). No Getsêmani, fez o mesmíssimo pedido três vezes (Mt 26.44).]
c) Como os versos 9 e 10 de Lucas 11 explicam o sentido da parábola? (Recorra a mais de uma tradução para entender melhor o texto.)
d) Jesus termina seu ensino sobre a oração, comparando o pai terreno com o Pai celestial (Lc 11.11-13). Eugene Peterson contemporiza assim o texto: “Não barganhem com Deus. Sejam objetivos. Peçam aquilo de que estão precisando. Não estamos num jogo de gato e rato, nem de esconde-esconde. 

Se seu filho pedir pão, você o enganaria com serragem? 
Se pedir peixe, iria assustá-lo com uma cobra viva servida na bandeja? 

 Maus como são, vocês não pensariam em algo assim, pois se portam com decência, pelo menos com seus filhos. Não acham, então, que o Pai que criou vocês com todo amor não dará o Espírito Santo quando pedirem?” 

Que exemplos podemos ver de boas e objetivas respostas de Deus aos pedidos de oração de Jesus? Consulte os textos de apoio.
Hora de Avançar
 

“Deus espera por nossas orações!”
Para pensar
 

Deus atendeu a oração de Jesus, antes de ele sair para pregar em outros lugares (Mc 1.35-39), depois da cura do leproso (Lc 5.15-16), antes de escolher os doze companheiros de ministério (Lc 6.12-13), durante a incrível experiência da transfiguração (Lc 9.28-29), antes de ensinar sobre a oração (Lc 11.1-2) e antes da agonia da cruz (Mt 26.39-44). 

Deus também ouviu a intercessão de Jesus por seus discípulos – tanto os contemporâneos dele quanto nós, que viemos a crer depois. Esta foi sua maior oração registrada, conhecida como “a oração sacerdotal de Jesus” (o capítulo inteiro de João 17). Finalmente, voltando ao texto de Hebreus (5.7), Deus não o livrou de passar pela morte, mas o ressuscitou em corpo glorioso, o que foi uma resposta de oração incomparavelmente mais poderosa e sublime.

O que disseram

“Não se aflijam com nada; ao invés disso, orem a respeito de tudo; contem a Deus as necessidades de vocês, e não se esqueçam de agradecer-lhe suas respostas. Se fizerem isto, vocês terão experiência do que é a paz de Deus, que é muito mais maravilhosa do que a mente humana pode compreender. Sua paz conservará a mente e o coração de vocês na calma e tranquilidade, à medida que vocês confiam em Cristo Jesus.” (Fp 4.5-7, BV.)

“A oração produz resultados psicológicos (paz de espírito, tranquilidade), espirituais (maior sentido de vida) e concretos (atendimento real do pedido feito).” (Elben César, em Práticas Devocionais)

Para responder

> Para você, quanto vale a oração? Quais os benefícios desta prática em sua vida?

> Como você seguirá o exemplo de Jesus como alguém que sempre praticava a oração?
> Em relação ao seu tempo e à sua agenda, que decisões você tomará hoje para colocar isso em prática?
> Compartilhe com um amigo ou com o grupo uma resposta concreta de Deus a algum pedido de oração específico que você tenha feito.
Eu e Deus

“Bem cedinho, de manhã, faço a minha oração. Tu, Senhor ouves a minha voz. Faço a minha oração e fico esperando, vigiando com atenção para descobrir a tua resposta.” (Sl 5.3.)

domingo, 9 de março de 2014

Três perigos que rondam um líder



    Uma grande demonstração de amudurecimento é quando passamos a aprender com o erro de outros. E neste aspecto podemos aprender muitas coisas com Saul, o primeiro rei de Israel. Estudando a vida daquele rei, veremos três fatos que provocaram sua queda, e estes fatos continuam sendo os mesmos que, ainda hoje, têm sido os fatores responsáveis pela queda de muitos líderes.
    Vamos fazer um pequeno retrospecto sobre a vida daquele rei.
    Da tribo de Benjamim, foi escolhido por Deus para ser o primeiro rei de Israel. Era um homem de grande estatura e de grande presença no meio do povo. Dentro dos padrões que normalmente usamos para escolher um líder, podemos ver nele o homem perfeito. E, com certeza, foi assim com Israel.
    Em seguida vemos Saul sendo divinamente designado para três coisas, podemos dizer que recebeu de Deus três ministérios: governar o povo(administrar as coisas do reino), liderar o povo nas guerras e profetizar, sendo que destes ministérios, o principal deles era governar.
    Tudo ia bem, até o período em que os filisteus começaram a guerrear contra Israel. O texto que vamos analisar encontra-se em I Samuel, capítulo 13. Neste texto nos são reveladas as causas da queda de Saul. E toda liderança deveria estar atenta a estas causas!
    Comecemos nossa análise pelo versículo 7; aqui vemos o povo indo até Saul em busca de socorro, de amparo, de uma decisão corajosa e encorajadora. Afinal de contas ele era o rei, e era natural que pelo fato do povo estar em apuros, todos esperavam que o rei pudesse ajudá-los. O líder não pode fracassar num momento de crise! Em Provérbios 24:10 está escrito: "Se te mostrares fraco no dia da angústia é que a tua força é pequena".
    Isto é o que acontece ainda hoje, as pessoas, quase sempre, esperam grandes decisões de seus líderes; esperam soluções inovadoras e corajosas. Esperam que seus líderes sejam capazes de apresentar "qualidades para o governo"; esperam liderança firme para o combate, mas, sobretudo, que TENHAM UMA PALAVRA QUE VENHA DE DEUS, capaz de acalmar os seus corações, trazendo orientação e discernimento. O líder em que faltam estas qualidades, corre o risco de acabar cometendo os erros que Saul cometeu e que foram as causas de sua queda.
    Os TRÊS PERIGOS QUE RONDAM UM LÍDER, são na verdade, três erros que um grande número de líderes cometem. Vamos então aos erros cometidos por Saul:

    O primeiro erro de Saul foi NÃO TER UMA PALAVRA QUE VIESSE DE DEUS. Naquele tempo o profeta representava exatamente isto, a Palavra de Deus! Vemos no versículo 8 que Samuel não estava por perto. Samuel representava a presença e a voz de Deus, e todo líder cristão precisa ter em si, a Palavra que vem de Deus para refrigerar a alma do povo.
    O texto de Provérbios 29: 18 diz que "não havendo profecia o povo se corrompe". Estamos falando aqui da Palavra inspirada por Deus, uma palavra capaz de trazer quietude ao coração mais atribulado. Uma palavra capaz de acalmar os mais terríveis ventos das contendas ou do medo ou da dor ou ainda qualquer aflição que perturbe o povo. Vemos no livro de I SM 13: 6, que o povo estava angustiado. Ao ponto daqueles homens refugiarem-se entre os espinheiros... Oh! Mas a que situação somos levados quando não temos a orientação de Deus!...
    No versículo 7, lemos que o povo foi até Saul tremendo... Eles precisavam de orientação e principalmente de uma direção, e para isto precisavam da Palavra de Deus! (Como hoje)!
    Quando falta esta Palavra, ou quando esta Palavra é substituída por meras palavras desprovidas de poder, ou por "chavões engenhosamente argumentados", o líder corre o risco de que comecem a questionar sua comunhão com Deus e isto representa um grande perigo, pois, fatalmente esta situação provocará um segundo erro!

    O segundo erro cometido por Saul foi PERDER O CONTROLE DA SITUAÇÃO. Vemos no versículo 8 que o povo começou a se dispersar... Imaginemos a cena: milhares de pessoas se dispersando... os comentários que corriam entre o povo. Quantas murmurações não devem ter acontecido! Quantos não saíram desiludidos e feridos daquela situação... Saul tornara-se um rei que não governava!
    No versículo 11, Saul, de maneira covarde e desesperada, tenta por a culpa no povo ou mesmo em Samuel; ou quem sabe nos seus adversários. Comportamento típico de quem perdeu o controle da situação.
    É muito perigoso quando um líder começa a perder o controle da situação. Quando as murmurações e controvérsias não são cortadas. Percebe-se o iminente descontrole quando o povo começa a se dispersar. É como em uma reunião onde as conversas paralelas tornam-se mais importantes que o assunto principal. O versículo 2 diz que, no início, dois mil homens estavam com Saul; depois desta dispersão, ficaram apenas cerca de seiscentos (v.15)! Pouco mais de 25 por cento!
    E o lamentável nisto, é que a perda do controle da situação por parte de um líder cristão, quase sempre leva-o a cometer um terceiro erro. Foi exatamente isto o que aconteceu com Saul.

    O terceiro erro cometido por Saul foi USURPAR O SEU MINISTÉRIO, foi exercer indevidamente o chamado divino. Como isto é perigoso! Oferecer sacrifícios era atribuição apenas dos sacerdotes e levitas. Porém Saul, numa atitude desesperada, numa demonstração tola de autoridade ou de espiritualidade, resolveu, ele mesmo, oferecer os sacrifícios!
    É perigoso quando um líder toma nas próprias mãos um chamado divino que não lhe pertence... Foi o que aconteceu com Saul. Oferecer os holocaustos não era atribuição dele; aquela atitude significava tratar com irreverência o altar e as ofertas de Deus. Como é triste ver isto acontecer...
    É muito triste ver um líder, muitas vezes aos berros, numa atitude desesperada, empenhando-se para permanecer num cargo do qual já tenha sido deposto pelo próprio Deus... O povo continua se dispersando pelas regiões montanhosas e pelos vales; "mas ele está lá"... Continua a oferecer sacrifícios inutilmente, amaldiçoando o povo enquanto o inimigo se agiganta! Seu ministério passa a ser exercido no sentido de tentar conter o povo ao invés de ser para glorificar a Deus. Suas ações são provenientes muito mais do medo do inimigo que do temor a Deus! Suas decisões são em função das circunstâncias e não da causa ou do planejado! Seu ministério passa a ser em função de si mesmo e não de engrandecer o reino de Deus!
    Nos dias de hoje, estes perigos continuam a "rondar" os líderes. Vemos que aquele rei desperdiçou uma grande oportunidade; desperdiçou a oportunidade de constituir uma grande nação.
    Ao contrário, o que lemos no v. 13, é a dura exortação do profeta: "Então disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o SENHOR teu Deus te ordenou; porque agora o SENHOR teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;". Deste episódio em diante o governo de Saul foi uma sucessão de erros!
    E vimos que as causas de sua reprovação por Deus foram:
- NÃO ter uma Palavra que viesse de Deus,
- Perder o controle da situação,
- Usurpar o seu ministério.
    Vimos mais, vimos que estas causas continuam sendo "perigos que rondam" a vida de toda liderança cristã! PV 8:15 contém a seguinte mensagem: "Por mim reinam os reis e os príncipes decretam justiça." O contexto nos fala da excelência da Sabedoria que vem de Deus! E esta sabedoria está revelada na Palavra de Deus, na Bíblia, a qual sempre deve ser o manual de toda liderança cristã!
    Líderes! Lembrem-se dos erros de Saul!

Líderes, é preciso se envolver!



O isolamento e o afastamento do convívio com outras pessoas é a pior opção que um líder pode escolher.

A capacidade de influenciar os liderados está muito ligada ao nível de envolvimento que o líder cultiva com as pessoas. A falta de proximidade, segundo psicólogos, é um dos motivos determinantes para o surgimento de depressão, desânimo e outras enfermidades relacionadas.

As pessoas confiam em quem se preocupa com elas. Estão abertas a opiniões e sugestões dos que demonstram interesse pelos seus problemas, pelas suas dificuldades e pelos seus valores.

Ser líder significa estar disposto a se envolver com as pessoas, ser sensível às suas necessidades e ser capaz de incentivá-las a crescer e a desenvolver seu potencial.
Certamente há riscos em se envolver com as pessoas. Podem decepcionar, podem frustrar expectativas, podem ser ingratas. Talvez por isto muitos optem por erguer muros para se defenderem dos perigos do relacionamento. Não se envolvem, não se abrem.

Ao líder essa opção está descartada. É inerente ao líder a necessidade de envolver-se com as pessoas. É preciso conhecê-las. É preciso correr os riscos próprios de relacionamentos sabendo que o potencial de sucesso é maior que as dificuldades encontradas no caminho.

Além de razões psicológicas para justificar o envolvimento há, para líderes eclesiásticos, expressa determinação bíblica. Os fundamentos são mais que estratégias de liderança.

O líder deve cuidar (preocupar-se, envolver-se) com os liderados conforme:

1. Exigido por Jesus - João 13:34-35; 15:12,17
2. Ensinado por Paulo - Rm 13:8; I Tes. 4:9
3. Orientado por Pedro - I Pe. 1:22
4. Reforçado por João - 1 Jo. 3:11-23; 4:7, 11-12; 2 Jo. 5

Embora seja mais confortável a opção de "deixar cada um cuidar de sua vida", a orientação é em sentido contrário - precisamos cuidar do próximo!

Em muitos relacionamentos, inclusive no ambiente eclesiástico, parecemos com a seguinte ilustração: um grupo de porcos-espinhos em dias de muito frio. Conforme o frio aumenta, desejamos estar mais próximos para aproveitar o calor. Só que logo a proximidade faz com os espinhos comecem a machucar e nos afastamos. Passado algum tempo o frio aperta mais e voltamos a nos aproximar e a nos espetar.

A vida vai passando e a "dança" se repete sem solução para o desafio de nos ajudarmos, ainda que com os riscos envolvidos.

Líderes assumem os riscos de se envolverem com seus liderados, pois sabem que não podem influenciar se não estabelecerem relacionamentos fortes e consistentes.

Envolvem-se com as pessoas porque desejam edificá-las (Rm. 15:19), contribuindo para que não se contentem com uma vida medíocre e sem realizações.
Envolvem-se porque sabem que não há espaço para líderes que não estão dispostos a servir (Gal. 5:13). Quebram o paradigma secular que estimula a obtenção de vantagem a qualquer preço.

Envolvem-se porque reconhecem que a vida em comum trás embutida a necessidade de perdoar (Ef. 4:32), de recomeçar, de superar as diferenças que podem surgir.

Envolvem-se, também, por saberem que deve haver respeito e consideração mútua (Hb. 10:24-25) em todos os relacionamentos.

Em resumo, estar disposto a envolver-se com os outros é expressão prática do amor que devemos nutrir uns pelos outros.

Líderes maduros não fogem do envolvimento, ao contrário, aproximam-se o mais que podem das pessoas a despeito dos riscos.

Líderes conforme Jesus



“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus e na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.5-11)

1. Tende em vós o mesmo sentimento de Jesus Cristo.

A esta afirmação cabe uma pergunta: Que sentimentos expressou Jesus?

A passagem que eu escolho para exemplificar os sentimentos de Jesus é a do batismo. Pois, naquele momento, Jesus estava entre dois sentimentos humanos: orgulho e humildade; ele sabia de antemão o que iria acontecer: o Espírito desceria sobre Ele, e Deus declararia ser Ele o seu Filho amado. Por discernir tudo isto, o profeta João Batista se recusa a batizá-lo, e declara: “Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3.14) Sim, o palanque estava armado, Jesus podia se exaltar diante do povo. Mas não, Jesus escolheu se submeter, humilhar-se a um batismo, sinal de arrependimento, purificação de pecados e de aliança com Deus, por isso declarou: “Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.”

Submissão a palavra da justiça, humildade e obediência, eram os sentimentos de Jesus do início ao fim do seu ministério. Não se esqueçam, ele terminou sua obra, dizendo: “Meu Pai, se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.” (Mt 26. 39)

Esse sentimento ocupa um lugar de pouco destaque no mundo, hoje, onde todos querem brilhar, lutam por aparecer. Humildade, submissão e obediência fazem muita falta no mundo e na Igreja, hoje.

2. A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo.

A força desta poesia adquire maior profundidade com o termo ekenôsen, que é o aoristo do verbo kenáo, que significa esvaziar, neste texto, indica a entrega total de todo e qualquer direito que Jesus tinha como Filho de Deus, como Deus, um esvaziamento total. Este ato é e sempre será uma lição de doação de Jesus, especialmente em nosso tempo, quando poucos abrem mão de seus direitos, em benefício de muitos. Pelo contrário, a maioria tenta reivindicar direitos que nem possui, isso quando não os toma indevidamente.

Ao assumir a forma de servo, Jesus caminhou na direção oposta do nosso mundo. Na cabeça da maioria das pessoas, o que vemos é lutar para galgar posições, de modo a ser chefe, exercer domínio sobre outros, ser servido. Mesmo nas igrejas, vemos ocasionalmente este princípio se infiltrar. Se vamos estimular a liderança conforme Jesus, devemos ser “servos uns dos outros” (Gl 5.13), como recomendou o apóstolo Paulo.

Outra característica está presente na parábola dos primeiros lugares no banquete. (cf. Lc 4. 7-14). Jesus, convidado para esse evento na casa de um fariseu, ensina que devemos ser servos, nunca nos exaltarmos e querermos conquistar os primeiros lugares por nosso próprio esforço. Devemos deixar que Deus nos coloque no lugar que Ele quer. “Servos se humilham e esperam que Deus os exalte”. Sentimento de servo, foi com freqüência exposto por Jesus.

Não vai ser possível liderar se a posição, o lugar não foi dado por Deus, pois quando é conquistado apenas pelo esforço humano e injunções políticas, tal posição poderá ser tomada por outra pessoa com maior esforço e mais poderosas injunções políticas.

Aliás, Jesus censurou severamente os discípulos, quando os encontrou discutindo e lutando por cargos e posições maiores (cf. Lucas 22. 24ss). E disse: “Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve."

Desse modo, vamos nos empenhar para que a nossa liderança se afirme com base no espírito de servo com que conduzimos nosso ministério, sendo servo de Deus e do rebanho.

3. Tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

A liderança de Jesus foi centrada na obediência ao Pai, a ponto de ele afirmar: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamento de meu Pai e no seu amor permaneço.” (Jo 15.10). Este reconhecimento da importância da obediência aos mandamentos de Deus se soma à obediência ao plano, à missão de Deus. Isso fez Jesus declarar também: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer.” (Jo 17.4) A obediência irrestrita nos faz um com Deus, nos torna mais do que servos de Deus, nos torna amigos de Deus, amigos de Jesus: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.” (Jo 15.14s).

Esta nova condição de relacionamento com Deus, conforme Jesus, nos inclui no círculo da intimidade de Deus, e Deus nos revela os seus propósitos, como diz o salmista (cf. Sl 25.14). Assim, conseguimos desenvolver uma liderança bem sucedida, porque não estamos dirigindo a “nossa” igreja, ou executando os “nossos” planos; lideramos com humildade, senso de serviço e obediência, sim, lideramos a igreja do Senhor e executamos os planos do Senhor.

Obediência se realiza quando damos cumprimento às decisões dos Concílios, mesmo aquelas com que não concordamos; quando damos cumprimento às orientações do bispo, do/a superintendente distrital, do/a pastor/a. Para isso, precisamos ser servos humildes do Senhor Jesus.

4. Para a Glória de Deus Pai.

A liderança de Jesus buscava, antes de tudo, a glória de Deus. Este é o critério para reconhecermos uma liderança cristã sadia e madura.

Jesus fugiu das multidões que desejavam tirar partido de sua liderança, do carisma de Deus que estava nele, ou tentarem retê-Lo para si (cf. Lc 4.42). Tanto na Palestina como no Brasil, hoje, o povo busca ídolos, heróis, messias. Isso porque, na raiz da maioria das religiões presentes no Brasil, somente o sacerdote pode abençoar, ele é o mediador, o povo comum não tem aportunidade, nem vez, nem voz. Por isso, com facilidade, se transplanta essa lógica religiosa para o campo político: homens e mulheres inescrupulosos tiram proveito da ignorância do povo, e manipulam-no em seu benefício, alcançam a “glória”, dinheiro, às custas do povo; isso ocorre na política como também na religião.

Nós não estimulamos, nem cremos nesse estilo de liderança. Primeiro porque cremos que, embora nossas lideranças são canais para nos abençoar, há um único caminho para Deus: Jesus. Todos os frutos que vemos no nosso ministério devem apontar para a videira, que é Jesus, e o agricultor, que é Deus. E Eles, tão-somente Eles, o Pai e o Filho e o seu Espírito, devem ser glorificados. E nós, líderes maduros, devemos fazer tudo sem descanso, e depois bater no peito e dizer: “somos servos inúteis”.

Devemos, sim, ensinar nossas ovelhas a aprenderem a se alimentar na fé, a obter vitória diante de Deus, andarem maduramente na Palavra de Deus e a dependerem exclusivamente de Deus (cf. Cl 1.9-12). Obviamente, respeitarem e reconhecerem suas lideranças, mas sem dependência destas, pois isso significa que são discípulos/as maduros e que sabem resistir ao Diabo, e frutificar no Espírito do Senhor, tudo para a glória de Deus na vida da Igreja do Senhor.

Lideranças, devolvam a minha igreja



“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada um. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos” (Atos 2:42-47).

Líderes, devolvam a minha igreja.

Eu confesso que acho esta frase um pouco pesada. Mas admito que ela faz sentido em se tratando da Igreja Evangélica no Brasil. Partindo, então, deste princípio, em que os líderes estariam usurpando a igreja de Jesus?

1 – Na ênfase da pregação

Em toda a história da Igreja Evangélica no Brasil, nunca se vendeu tantos livros e se fez tantas palestras e conferências sobre como fazer uma igreja crescer. Esse processo evidencia que algumas lideranças estão trocando a ênfase dada por Jesus no amadurecimento da igreja pela lógica do crescimento. É preciso entender que o crescimento da igreja é problema do Espírito Santo. O texto bíblico acima mostra que os apóstolos ensinavam e os discípulos perseveravam nas doutrinas, aprendendo que a obra de Deus é o próprio homem, aprendendo que estão sendo transformados segundo a imagem de Jesus Cristo.

Deus quer que tenhamos o caráter de Jesus. Ser cristão é sair do estado de rebelião para o estado de adoração, e adorar é reconhecer que a vontade de Deus é o que existe de correto no universo. Cultuar a Deus é fazer tudo que Jesus faria se estivesse em nosso lugar. Na igreja de Jerusalém os membros estavam crescendo em ser como Jesus, e crescer é viver em comunidade.

Os líderes precisam compreender que pastorear não é trabalhar até que se tenha uma congregação imensa, mas investir no ser humano de tal modo que ele aprenda a ser como Jesus e a amar cada vez mais os outros irmãos. Quando a ovelha está com um problema, ensina-se a ele a lidar com aquela situação da forma como Jesus lidaria. Se ela desenvolve antipatia por um semelhante, mostra-se a ela que é preciso olhar para aquela pessoa como Jesus olharia.

Mas este movimento que faz as lideranças buscarem desesperadamente pelo crescimento numérico está levando a igreja a ficar cada vez mais egoísta. As músicas demonstram isso. Onde está o “nós”? As canções só se referem à primeira pessoa, como se não fosse importante que a obra de Deus alcançasse a comunidade, mas apenas o indivíduo. Isso está fazendo o homem acreditar que tudo é para ele.

Olhando para a história bíblica, veremos que Moisés abriu o mar, quando estava libertando escravos; Jesus dominou o vento e a tempestade quando estava indo libertar o gadareno; o mesmo Cristo multiplicou os pães e os peixes para alimentar uma multidão. Mas, hoje, qual é a motivação para se buscar milagres?

Os apóstolos levavam os discípulos a orar, a ler a Bíblia, a crescer espiritualmente em prol da comunidade. Na congregação desenvolvia-se o sentimento de união, de solidariedade. Os líderes atuais, entretanto, precisam tomar estes exemplos, pois usurpamos a igreja e transformamos Deus em um criado.

2 – Na mensagem

Ao iniciar o seu ministério, Jesus dizia que o reino de Deus estava chegando. As pessoas deviam se arrepender de suas práticas e jeito de ser errados. Elas deviam reconhecer que carregavam dentro de si o mal. E, hoje, a mensagem continua sendo a mesma, as pessoas continuam precisando admitir sua condição decaída de pecado, continuam precisando reconhecer que são criaturas fora do padrão de Deus.

Mas não se fala mais que o indivíduo está em rebelião contra Deus. Temos transferido a culpa para o diabo. No entanto, precisamos entender que são os homens que abriram a porta do coração para ele entrar. E, ao invés de chamar a atenção do homem para esta situação, os profetas estão trocando a mensagem do arrependimento pela mensagem da bênção. “Venha buscar a sua bênção”, é o que se anuncia.

É por isso que vemos tanta gente convertida, comprometendo-se em mudar mas sem condição de assumir um novo caráter. Elas passam a freqüentar igrejas, mas não conseguem deixar de mentir, adulterar, drogar-se, cobiçar. O interior delas não está sendo trabalhado, a mensagem do arrependimento e da mudança de direção não está sendo pregada, as pessoas não estão indo às igrejas para se tornarem semelhantes a Jesus. Usar o nome de Deus com interesses próprios, para ganhar dinheiro e status, é blasfêmia, porque é blasfêmia confundir o que santo com o que é humano. E a igreja não está se importando, porque perdeu o temor de Deus.

A igreja não se incomoda mais em se relacionar com Deus só para receber coisas. Outro dia, soube de um rapaz que afirmou ficar sem dar glória a Deus até que o Senhor lhe respondesse positivamente ao pedido que fez. O povo está perdendo o temor de Deus, e quando se perde o temor de Deus, ganha-se medo do diabo, tornando-se alguém supersticioso. Usurpamos quando não ensinamos que o homem deve temer a Deus. A mensagem não pode mais ser “Venha buscar a sua bênção”. A mensagem tem que ser “Arrependei-vos”.


Conclusão

A Bíblia ensina que pastorear é ser exemplo. E ser exemplo é dizer ao rebanho o que Paulo disse: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Co 11:1). Primeiro, é necessário ser exemplo de arrependimento, mostrar que está em constante quebrantamento diante do Pai celeste e que só está de pé porque Ele sustém. O líder também tem de ser exemplo do que é ser ovelha de Jesus. Afinal de contas, se não formos como Jesus, seremos como quem ?