terça-feira, 5 de março de 2013

Jonas, o Rebelde?




Creio que tudo o que está inserido na Bíblia tem, de uma forma ou de outra, algum proveito para nossas vidas. Paulo nos disse que toda a Escritura é inspirada por Deus e é proveitosa para ensinar, repreender, corrigir e instruir (2 Tm 3:16). Parece que um exemplo de desobediência como o de Jonas serve de ?consolo? para nós e nos ?alivia? a consciência de que não somos os únicos que erramos o alvo proposto.

Jonas inspira muitos sermões acerca da desobediência. Este livro de apenas quatro capítulos serve para diversos pregadores mostrarem sua eloqüência e pregarem duros sermões. Diz o texto bíblico que Deus ordenou que Jonas fosse até a cidade de Nínive e pregasse contra o seu pecado. Nínive era capital da Assíria, nação poderosa e com um exército temível e terrível. Foi uma grande potência mundial no seu auge.

Os assírios, ao conquistarem determinado povo, o torturavam e massacravam. Eles pegavam seus ?novos escravos? e arrancavam as orelhas, o nariz, dedos, etc. Chegavam a furar os olhos dos pobres coitados. Os soldados ninivitas tinham uma crueldade fora do comum. Misericórdia era uma palavra desconhecida. Seu intento era rebaixar ao máximo e humilhar as nações que venciam. E os assírios eram inimigos dos judeus. Agora imaginemos Deus se chegar a Jonas e mandá-lo pregar a este povo cruel, que tinha torturado e matado muitos do seu povo? O texto dá a entender que Jonas não tinha um conceito desenvolvido da onipresença de Deus e fugiu para a cidade de Társis. Ele achou que os olhos de Deus estavam somente sobre Israel.

Parece que satisfaz nosso ego encontrar alguém que tenha mais características ruins do que nós. Quando vemos assassinos diariamente nos noticiários, parece que nossos defeitos ficam um pouco escondidos. Como explanou o Rev. Caio Fábio em um de seus sermões: ?A sociedade não queria que o endemoninhado gadareno fosse liberto. Aquele homem fora dos padrões desviava a atenção para si, e os defeitos das pessoas ?mais normais? ficavam escondidos. Aquele homem quebrava as correntes, mas se colocassem correntes mais fortes, uma hora quebraria os ossos dele, e não as correntes. Aquele homem poderia bater em 5, 10 ou até 15 homens, mas será que bateria em 100 homens? O endemoninhamento tem um limite. E o engraçado é que ele nunca morria de fome, com certeza alguém sempre levava uma comidinha para o endemoninhado continuar ali naquela situação. Não era interessante ele se tornar uma pessoa normal, por isso era melhor deixá-lo como estava, para que as pessoas da cidade sempre tivessem algo para comentar e seus defeitos não ficariam tão evidentes. Quando Jesus o libertou, pediram a Jesus que se retirasse da cidade?. (Resumi o que ele disse com minhas próprias palavras).

É tão fácil falar da desobediência de Jonas, mas você faria diferente? Você pregaria para os assassinos de teus filhos? Evangelizaria o estuprador de tua irmã? Ou falaria do amor divino para pessoas que mutilaram alguém da tua família? Aí a nossa visão crítica sobre a fuga de Jonas começa a mudar. Não estamos justificando a atitude de Jonas, mas creio que ele teve motivos mais justificáveis para sua obediência do que nós para alguns de nossos pecados. O pregador que chama Jonas de desobediente muitas vezes é o mesmo que fica com inveja quando aparece outro pregador melhor. O crente que crítica Jonas por não ter pregado aos ninivitas em diversas vezes é o mesmo que quase nunca fala de Jesus para as pessoas. Cansamos de usar dois pesos e duas medidas. Deus queria mostrar pra ele que sua misericórdia supera quaisquer conceitos filosóficos, sociológicos ou até teológicos.

Embora tivesse tido ?justos? motivos para não ter ido pregar em Nínive, Deus enviou um grande peixe para tragar Jonas. A ciência e os teólogos liberais olham para esta passagem como uma lenda, ou, no máximo, uma história fictícia que ensina boas lições espirituais. Temos um caso semelhante fora da Bíblia. Um homem chamado James Bartley, por acaso, ou porque Deus quis mesmo, (vai saber...) foi engolido por uma baleia. Os marinheiros que estavam com ele conseguiram capturar a baleia e a mataram. Quando abriram a baleia, viram algo se mexendo dentro dela. Viram que era James, ele estava vivo!!! Quase morreu no hospital, mas depois de aproximadamente 30 dias voltou a si. Ele ficou com a pele esbranquiçada por causa de uma substância que existe dentro da baleia.

Agora imagine comigo: Um judeu andando entre os assírios, com a pele toda esbranquiçada, dizendo que a cidade seria destruída em 40 dias (Jn 3:4). Creio que os ninivitas pensaram se tratar de um ser de outro mundo ou alguma divindade. Imediatamente começaram a se arrepender, se humilhar, etc. Até mesmo o rei temeu a mensagem e proclamou um jejum. O objetivo da mensagem tinha sido atingido, a conversão de uma cidade inteira. Qualquer evangelista teria ficado cheio de júbilos se tivesse tido o sucesso de Jonas. Mas Jonas ficou triste a tal ponto que quis morrer. O desejo de Jonas era que Deus destruísse a cidade inteira para vingar o povo de Israel (Jn 4:2,5). Era um profeta, mas não deixava de ser humano.

A misericórdia divina supera nossos conceitos. Aquele que achamos que não tem mais jeito, de repente se converte. Deus ama as pessoas, e é difícil para nós entender isto. Às vezes achamos que Deus ama instituições. Às vezes achamos que Deus ama apenas os evangélicos. Às vezes achamos que Deus tem que ter paciência apenas conosco, não com o nosso vizinho. Quantos erros cometemos com nossas ?achologias?. Até mesmo o profeta erra. O pastor também se equivoca. O teólogo não sabe tudo sobre Deus. Ele teve misericórdia do profeta desobediente e da cidade sanguinária. Teve misericórdia de mim e de você. Fico por aqui, não há como expressar com palavras a graça de Deus...



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