A igreja contemporânea está seguindo a Palavra e os
caminhos do Senhor, detestando todos os outros caminhos? O temor do Senhor, o
amor à verdade e à glória de Deus e o desejo de andar de acordo com todos os
mandamentos do Senhor prosperam na igreja de Deus? Diante de Deus e dos homens,
temos de confessar, honestamente, que a resposta é não. Sim, ainda existe uma
verdade exterior, um crescimento visível e privilégios espirituais públicos em
um nível que a igreja das eras passadas dificilmente possuía. Israel podia
reivindicar possuir estas coisas — verdade exterior, crescimento visível e
privilégios espirituais públicos — enquanto, ao mesmo tempo, se desviava do
Senhor..
Uma igreja tende a desviar-se de um fundamento
seguro. Por isso, Deus convoca a sua igreja a conscientizar-se de como se
inicia, floresce e termina o desvio. Temos de conhecer bem os ardis e os planos
metódicos de Satanás que procuram levar a igreja a uma abominável condição de
desvio. À luz da revelação do Espírito Santo, a história de Israel e da igreja
mostram um padrão claro de desvio gradual, um padrão que consideraremos em
detalhes.
1. Quando a igreja começa a desviar-se, o primeiro
sinal visível é, comumente, um aumento do mundanismo. Na vida diária, na conversa e,
inclusive, no vestir e na moda, o espírito do mundo começa a infestar a igreja.
Aquilo que se introduziu com vergonha na igreja começa a andar com liberdade,
sendo freqüentemente encoberto ou ignorado, em vez de exposto e admoestado. A
linha nítida de separação entre a piedade e o mundanismo começa a se tornar
obscura.
Em vez de andarem em direções diferentes, o mundo
e a igreja começam a ter mais coisas em comum, trazendo maior detrimento para a
igreja. Alguns dos membros da igreja começam a ir a lugares mundanos, tomar
parte nos entretenimentos do mundo e fazer amigos das pessoas do mundo. Alguns
crentes introduzem em seu lar todos os tipos de meios de comunicação sem
avaliar que controle exercerão. Por conseqüência, logo se tornam habituados à
mentalidade contemporânea do mundo. Pessoas mundanas, entretenimentos
mundanos, costumes mundanos, lugares mundanos — não foi sobre essas coisas que
Oséias advertiu, quando o Espírito Santo o guiou a escrever: “Efraim se mistura com os povos” (Os 7.8). O pecado
de mundanismo crescente é o primeiro passo da igreja em direção ao declínio e
um passo trágico espiral do desvio.
2. O mundanismo inclina a igreja a desviar-se cada
vez mais e a uma condição insensível de incredulidade. O próprio Senhor Jesus lamentou
a respeito de sua geração: “Mas a quem hei de
comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam
aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos
lamentações, e não pranteastes” (Mt 11.16-17).
Isso não é um retrato da igreja
de nossos dias? Se o tom fúnebre da lei é pregado, quantos pecadores choram? Se
o tom nupcial do evangelho é proclamado, quantos pecadores infelizes são
trazidos ao regozijo? Em geral, podemos dizer que a lei parece não causar
tremor, e o evangelho parece não despertar anelo... Cada um de nós poderia
confessar: “Tornei-me insensível à lei e ao evangelho — temo o próprio
inferno”? Até a pregação sobre a condenação do inferno está causando
menos e menos impressão. E a pregação sobre o céu? Por natureza, não queremos
nem uma, nem outra. Um ateísta disse certa vez: “Pode
ficar com o seu céu e o seu inferno; dê-me apenas esta terra”. Não
ousamos dizer tal coisa, mas será que vivemos com isso em nosso intimo? A
incredulidade nos torna ateístas. O inferno não é mais inferno, o céu não é
mais céu, a graça não é mais graça, Cristo não é mais Cristo, Deus não e mais
Deus, e a Bíblia não é mais a eterna Palavra de Deus.
A incredulidade também nos torna insensíveis à verdade. Podemos saber a verdade em nosso intelecto, mas ela não nos mudará eternamente, se não for enxertada em nosso coração.
3. A incredulidade leva a igreja a desviar-se rumo a uma condição insensível de indiferença. A incredulidade nos leva a perder todo o interesse pela verdade. Quantas pessoas estão realmente interessadas em ouvir a verdadeira doutrina sendo proclamada do púlpito, a fim de aprenderem sobre a morte em Adão e a vida em Cristo? Estamos interessados em guardar as doutrinas fundamentais da soberania de Deus e da responsabilidade do homem? Sentimos deleite em ouvir ambas sendo pregadas por completo, à medida que fluem do texto bíblico que está sendo exposto?
A incredulidade também nos torna insensíveis à verdade. Podemos saber a verdade em nosso intelecto, mas ela não nos mudará eternamente, se não for enxertada em nosso coração.
3. A incredulidade leva a igreja a desviar-se rumo a uma condição insensível de indiferença. A incredulidade nos leva a perder todo o interesse pela verdade. Quantas pessoas estão realmente interessadas em ouvir a verdadeira doutrina sendo proclamada do púlpito, a fim de aprenderem sobre a morte em Adão e a vida em Cristo? Estamos interessados em guardar as doutrinas fundamentais da soberania de Deus e da responsabilidade do homem? Sentimos deleite em ouvir ambas sendo pregadas por completo, à medida que fluem do texto bíblico que está sendo exposto?
Devemos ter desejo de ouvir todas as ricas doutrinas das
Escrituras sendo pregadas em sua plenitude, todas elas fundamentadas no âmago
do evangelho — Jesus Cristo, e este crucificado —, assim como os raios estão
firmados no cubo de uma roda. Estamos interessados nas doutrinas do amor
infinito de Deus e da redenção completa por meio do sangue de Cristo? Cuidamos
em entender a necessidade do Espírito Santo, da justificação, da santificação,
da perseverança?
Precisamos estimar a doutrina experimental, em vez de
nos tornarmos indiferentes para com ela. Temos interesse em ouvir sobre a
necessidade da graça salvadora, a plenitude dessa graça e os seus frutos?
Finalmente, não podemos ser indiferentes em relação
a ouvir sobre as marcas da graça — marcas que fazem distinção entre a obra de Deus
e a obra do homem, a fé salvadora e a fé temporária, o verdadeiro tremor (Fp
2.12) e o tremor demoníaco (Tg 2.19), as convicções inalteráveis e as
convicções comuns.
Vivemos em uma época terrivelmente descuidada e
indiferente. O interesse pela verdade está desaparecendo, e muitas das
distinções que acabamos de mencionar estão se tornando desconhecidas, cada vez
mais, até mesmo para os membros de igrejas... Alguns não podem mais ver a
diferença entre as marcas bíblicas da graça manifestadas na experiência diária
e as marcas da graça demonstradas na história. Não tomam tempo para ler as
obras de nossos antepassados e estudar as diferenças; não ouvem sobre as
distinções e se tornam apáticos. Por natureza, não nos preocupamos com
nenhuma dessas coisas. Vivemos no mesmo nível das bestas. Nossa vida parece não
ser mais do que trabalhar, comer e morrer. Somos inclinados a desviar-nos, por
amor à nossa reputação e à nossa vida. Colocamos o “eu” acima da doutrina, e
essa é a razão por que podemos continuar vivendo sem nos convertermos.
Os filhos de Deus amam a pregação perscrutadora,
experimental e discriminatória, não importando quão difícil ou estressante ela
seja. Por natureza, preferimos uma
falsa segurança ou uma reivindicação presunçosa, mas os filhos de Deus preferem
ser mortos a serem enganados. Por experiência, eles sabem que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Sabem que é
muito mais fácil alguém ser enganado do que conhecer a verdade. Portanto, nem
choro intenso, nem noites de oração a sós com Deus, nem mensagem falsificada
(embora pareça-se muito com a mensagem genuína), nada disso os satisfará. Eles
precisam de mais do que lágrimas, orações, arrependimento, indignidade e
humildade. Precisam de algo e alguém de fora deles mesmos. Precisam de Cristo.
Necessitam de Cristo e da verdadeira doutrina ardendo em sua alma por meio do
Espírito Santo. E nunca experimentarão isso de modo suficiente. Eles clamarão:
“Senhor, confirma essa mensagem com o Teu selo divino de aprovação, para que eu
saiba que é a Tua doutrina inscrita nos recessos de minha alma, e não a minha
própria doutrina —a minha própria inscrição, lágrimas e obras”.
A vida dos filhos de Deus é caracterizada por
buscarem, cada vez mais, a doutrina produzida pelo Espírito Santo,
experimentada na alma e abençoada pelo céu. Eles anelam pela verdade que os
libertará e banirá toda dúvida com seu poder dominador — a verdade que lhes
enternecerá e abençoará a alma. Esse é também o seu desejo? Ou a sua religião
não passa de tradição misturada com convicções comuns e ocasionais? Um
cristianismo trivial e um conhecimento diminuto satisfazem a sua consciência?
E, por isso, você coloca a sua alma em segundo plano? Você está contente com a
estrutura da religião, sem o conhecimento no coração?
Se você pode sinceramente responder “sim”, então
está se desviando a cada dia, a cada sermão, a cada domingo. É uma verdade
severa, mas autêntica: por natureza, estamos pedindo ao Senhor o caminho mais
curto para a condenação. Somos inclinados a nos desviar, rumando diretamente ao
inferno. Que o Senhor abra os nossos olhos, antes que seja tarde demais!
4. A indiferença produz seu
companheiro mais próximo no percurso do desvio: a ignorância.Quando olhamos para trás,
pensamos em Edwards, Whitefield, Owen, Bunyan e outros de nossos
antepassados e consideramos que os sermões deles eram entendidos pelas pessoas
comuns, precisamos temer que as palavras do Senhor ditas a Israel também são
verdadeiras quanto à igreja de hoje: “O meu povo
está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os 4.6).
5. A ignorância intelectual e espiritual da verdade
leva à praga da morte espiritual na igreja. O povo de Deus tem de começar
consigo mesmo. O que aconteceu com aquelas épocas em que as pessoas eram
comovidas, abaladas e convencidas pelo Senhor semanalmente? Os filhos de Deus
deveriam confessar hoje: “Oh! que isso acontecesse uma vez por mês ou uma vez
por ano!” Onde estão os fervorosos exercícios da vida espiritual? “Oh!”, eles
confessam, “estão mortos! E o que sobra é maná deteriorado!”
6. A morte espiritual tende a
desviar-se para a centralidade no homem. Se o homem é o centro da igreja, ele se torna o
objeto de toda conversa, quer seja idolatrado, quer seja criticado; e Deus e
sua Palavra são colocados de lado. Multiplica-se a conversa centralizada nos
oficiais e ministros da igreja, e julgamos uns aos outros. Um pastor é bom; o
outro, razoável; e um terceiro, não é bom de maneira alguma. Vivemos em dias em
que os pastores são avaliados de acordo com escalas criadas pelo homem, e não
pela escala divina da Palavra e do testemunho de Deus... A centralidade no
homem é uma maldição na igreja, uma blasfêmia contra o nome de Deus, o fruto de
morte espiritual e a garantia de nenhuma bênção pessoal, a menos que o Senhor a
destrua! Isso é ilustrado claramente pela história de uma mulher que recebeu
uma bênção no primeiro sermão que ouviu de Ebenezer Erskine... ela viajou
muitos quilômetros para ouvi-lo novamente, mas não recebeu nenhuma bênção.
Erskine teve graça e sabedoria para responder: “Senhora, isso é fácil de
explicar. Ontem, a senhora ouviu a Palavra de Jesus Cristo; hoje, a senhora
veio para ouvir as palavras de Ebenezer Erskine”.
7. Isso nos leva ao último passo de uma igreja que
se desvia da verdade: a centralidade no homem produz o fruto de uma expectativa
secular em relação a Deus. A expectativa secular se baseia nas atividades
de homens, criadas por se vincular a elas o nome e a bênção de Deus. Nisso, não
compreendemos que temos falsificado toda a expectativa de nossa parte. Nenhuma
expectativa santa é fruto de uma indignidade piedosa centralizada no
homem, que rebaixa a Deus ao nível do homem.
Oh! que as igrejas transbordem de pessoas que estão
cheias de expectativa santa em Deus e de uma compreensão adequada de sua
própria indignidade! Somente o Espírito Santo opera essa expectativa, cujo
olhar se fixa muito além do “eu” e do homem. Embora nossos pecados se acumulem
até aos céus, essa expectativa santa percebe que a justiça vicária e
satisfatória de Cristo ascende até ao trono de Deus e recebe o selo de sua
aprovação. Com base nisso, a expectativa santa recorre ao trono da graça e ali
intercede — não diante de um deus insignificante, e sim diante do grande Deus
trino, do céu e da terra! A expectativa santa não pode se contentar com
mundanismo, incredulidade, indiferença e ignorância. Ela abomina a apostasia e
busca a honra de Deus, a conversão dos pecadores e o bem-estar da igreja! A
única esperança da igreja é Deus, pois somente Ele pode reavivar sua igreja
desviada. Peça-Lhe que se lembre de nós em Cristo Jesus, o único fundamento de
apelo e expectativa! Que Ele envie seu Espírito e receba tanto a sua igreja
como a nós mesmos... que o homem seja crucificado, Satanás, envergonhado, e
multiplicados os intercessores perante o trono da graça. Que Deus receba o seu
lugar legítimo entre nós, por conquista divina. “Ele, tudo em todos; nós, nada
em nada”.
0 comentários:
Postar um comentário