Introdução
1. O apóstolo Paulo estava preso em Roma.
Possivelmente acorrentado e vigiado por um soldado romano durante a maior parte
do tempo. Observando a armadura e o afazer deste soldado recebe a revelação do
mesmo caráter do cristão como soldado de Deus, descreve a natureza do conflito
espiritual e as diferentes peças da armadura de Deus.
2. Paulo teve em sua vida e ministério grande e
fortíssimas experiências relacionadas com a batalha espiritual. Ele lutou com
todas as ferramentas que o Senhor Jesus Cristo lhe deu para alcançar a vitória.
O mesmo fato de estar preso na cadeia romana era uma forma que Satanás procurou
para derrotá-lo. Ainda, naquela situação espantosa da testemunha do poder de
Deus na sua vida como a única causa de seu permanecer na batalha, e que ainda
estar preso era parte da estratégia do Senhor para a extensão do evangelho: Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo mais
abundantemente além daquilo que pedimos o pensamos, segundo o poder que em nós
opera. A essa glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, por
todo e sempre. Amém. Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é
digno da vocação com que fostes chamados. (Efésios 3:20,21; 4:1).
3. Há uma mentalidade no meio da igreja que faz que
os cristãos só se limitem a aceitar a religião como membros ocasionais,
procurando somente usufruir o conforto espiritual que desejam de suas
estruturas eclesiásticas.
Porém, sem um compromisso maior e sem querer buscar
assumir uma identidade mais achegada àquilo que a Palavra de Deus demanda. A
falta de renuncia inerente ao evangelho, a posição de comodidade distancia aos
cristãos de se transformarem em verdadeiros discípulos e soldados de Cristo.
Milhares de armaduras estão ainda na espera daqueles que as tomarão para lutar
pelo reino do Senhor.
4. Existe
um grande conflito em todo o universo, entre a potestade de Deus e a potestade
de Satanás.
(Atos 26:18). É uma conflagração terrível da qual
depende a vida de milhões de pessoas. Ninguém pode permanecer neutral nesta
guerra. Por esta razão:
1. O
soldado de Cristo deve aprender usar toda a armadura de Deus.
Revesti-vos de toda a armadura de
Deus, para que possam estar firmes contras as astutas ciladas do diabo. (v.11)
Uma armadura jamais pode ser
usada de forma incompleta. Um soldado armado só com uma parte dela fará inútil
sua eficácia e ainda será um motivo de zombaria por parte do inimigo.
Esta armadura não é humana, é
de Deus. Aquela que Ele mesmo usa, a que ao mesmo tempo providencia aos
seus soldados do reino que batalham a guerra espiritual.
O soldado de Cristo deve estar
ciente que não poderá ser vitorioso em nenhum conflito inerente à vida
espiritual sem ter tomado esta provisão de Deus. Não poderá por si mesmo, com
as suas próprias energias e capacidades suportar a natureza do combate
espiritual, se não obedecer ao mandamento do seu Senhor para revestir-se dela.
Reconhecer que precisamos da ajuda externa para vencer o manterá humilde e
dependente de Deus. Um soldado autossuficiente e um soldado auto deficiente.
Revestir-se da armadura de Deus
tem uma conotação plural. É uma chamada à Igreja, a todos os membros do Corpo
de Cristo para estarem revestidos dela. É nesta unidade, na comunhão verdadeira
é que podemos “estar firmes”. O soldado de Cristo não é um “Rambo” espiritual,
nem um super-herói. Ele só tem sentido (como todo soldado tem) enquanto
permaneça junto ao exercito de Deus. Este “estar firmes” é uma exortação
militar que obriga aos soldados a permanecerem junto e aguentar os astutos
ataques do diabo e suas forças de maldade. Um soldado firme colabora na firmeza
dos outros que estão ao seu lado combatendo a mesma batalha.
2. O
soldado de Cristo deve saber reconhecer a natureza do conflito e do inimigo.
Porque não temos que lutar contra
o carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da
maldade, nos lugares celestiais. (v.12)
A armadura de Deus é necessária
porque existe um conflito, uma batalha que é impossível ser evitada. Este
conflito é violento, permanente e extremamente mortal, superior a qualquer
conflito humano, pois não uma guerra contra “o carne e o sangue”, mas contra os
poderes do maligno, o adversário de Deus e de todos os que temos sido chamados
como os seus filhos.
Com astutas ciladas. A estratégia do inimigo é
semelhante à dum terrorista. Não é uma guerra convencional, é uma guerra de
guerrilhas. Não vem de frente, usa de camuflagem para invadir ocultamente o
nosso território. Porque o mesmo Satanás de transfigura em anjo de luz (2
Coríntios 11:14). O soldado de Cristo deve estar atento a tudo aquilo que
entrando na esfera do evangelho e a comunhão cristã o deslumbre ou lhe
entusiasme em demasia, enchendo-o de auto-satisfação, aí é que está o perigo.
Estas “ciladas” são meios astutos, armadilhas, formas mentirosas de situações e
circunstâncias que se aproximam diante do soldado que demandam cuidados e
discernimento.
Não temos que lutar contra o
carne e o sangue. Os inimigos são forças espirituais, invisíveis aos olhos humanos,
somente descobertos com as lentes infravermelhas que o discernimento de
Espírito da à igreja. Estes inimigos tentam tomar o lugar em que todas as
bênçãos alcançadas em Cristo são dadas ao cristão: nos lugares celestiais. Desta
forma Satanás tenta impedir que o soldado possa nutrir-se da sua fonte de
provisão e assim perder todo o seu vigor espiritual.
Contra os principados, contra as
potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais
da maldade. As forças
de maldade são reconhecidas como entidades pessoais. Não são forças cósmicas,
más vibrações, ou energias negativas etéreas que circulam pelo ar. São
espíritos individualizados e denunciados, da maneira como o mesmo Satanás é
denunciado nas Escrituras. São “inimigos”, não são simplesmente espíritos
ocultos ou agentes com os quais podemos conviver sem que sejamos incomodados. O
propósito de todos eles é tomar posse de regiões, povos e nações e sujeitar às
pessoas à destruição e morte. O Senhor Jesus declarou qual és a intenção do
diabo: matar, roubar e destruir. (João 10:10). Ainda que muitos cristãos
acreditem que não falando destes, nem os incomodando poderão evitar seus
malignos ataques, erram profundamente. Estes inimigos não descansam até conseguir
destruir aos seus oponentes, e todos aqueles que somos de Cristo somos inimigos
do diabo. O Senhor Jesus disse: Quem não é comigo, é contra mim; e quem
comigo não ajunta; espalha. (Mateus 12:30). Necessitamos da armadura de
Deus para vencê-los. Não existe de fazer com eles um “tratado de não agressão”
com eles, pois a sua mesma natureza é maligna.
3. O
soldado de Cristo deve saber reconhecer todas as partes da armadura de Deus.
Portanto, tomai toda a armadura
de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar
firmes. (v.13)
A chamada a tomar a armadura de
Deus se repete para mostrar a urgência que revestir-se dela tem.
A estratégia do inimigo é
declarada aqui de forma específica: ele prepara com astúcia “o dia mau”. É o
momento onde as forças do inimigo, sejam por meio da provação ou a tentação
tentará destruí-lo e acabar com a sua vida espiritual. Quando Satanás quis
tentar ao Senhor Jesus no deserto, o Mestre nos ensinou como permanecer firmes
em este dia de terrível crueldade, no dia mau. Por meio da Palavra derrotou o
diabo, com a espada do Espírito cortou todo propósito de Satanás, cumprindo
aquilo que foi dito nas Escrituras: Para isto o Filho de Deus se manifestou:
para desfazer as obras do diabo. (1 João 3:8). Ainda assim, faz parte do
mandamento do Senhor que o soldado “permaneça firme”, pois o diabo não para na
sua intenção maligna de prejudicá-lo. O mesmo texto de Lucas 4:13 nos disse que
o diabo “ausentou-se dele por algum tempo” procurando de todas as formas
afastar ao Senhor do seu divino propósito.
Estai, pois, firmes, tendo
cingidos os vossos lombos com a verdade. (v.14)
A expressão “estar firmes” é
chave no texto, pois descreve a forma de contrapor os ataques das potestades
malignas. Os soldados devem encorajar-se mutuamente para não esmorecer, pois a
batalha é muito forte e desgastante.
“Cingidos os vossos lombos”. Esta ação deve se realizar de
forma íntima e deliberada. O que seria para nós na atualidade a ordem de:
“apertar-se os cintos” antes de enfrentar um momento de risco. A palavra de
Deus nos adverte para que “não caiam as nossas calças” chegado o momento de
encarar a luta espiritual.
A armadura deve ser vestida na
ordem aqui descrita. Os antigos da época do Novo Testamento usavam túnicas
largas. O cinto, por sua vez, servia para ajustar estas roupas ao corpo antes
de revestir-se com a armadura, desta forma o soldado ficava com uma maior
liberdade de movimento.
Espiritualmente falando, este
cinto da verdade quando bem ajustado fará com que mentira e a hipocrisia não
sejam motivo de embaraço para o soldado. A falta de integridade é um defeito
que expõe o soldado para ser envergonhado em sua luta contra o mau. Por isso, o
apóstolo Paulo aconselha ao seu filho espiritual Timóteo: Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar,
que maneja bem a palavra de verdade. (2 Timóteo 2:15). Assim como o cinto
dá facilidade de movimentação a quem usá-lo, a verdade é como um cinto ao redor
do caráter pessoal que outorga uma grande liberdade de ação para todos os
relacionamentos pessoais. A mentira inabilita, a hipocrisia embaraça. O cinto
bem ajustado proporciona uma postura correta, dá firmeza às convicções diante das
falsas opiniões e da mentira”.
E vestida a couraça da justiça. Esta couraça é como um “segundo
esqueleto” colocado no peito para dar proteção ao coração, o órgão vital, o
local que o inimigo procura para dar a sua ferida mortal. É também o local em
que a alma deposita seus sentimentos e as emoções. Muitos soldados enfraquecem
por não saber se proteger nesta área. Conflitos relacionados com a
instabilidade emocional, a imaturidade emocional, terminam por deteriorar a
fortaleza espiritual. Brechas abertas nesta área fazem estragos na vida do
soldado.
É uma “couraça de justiça”, pois
o soldado deve se vestir das ações corretas. Irresponsabilidade e má conduta
abrem nesta couraça brechas perigosas. Esta justiça se relaciona com um caráter
que honra as leis do reino de Cristo (Mateus 5:6).
A justiça que nos é imputada pela
obra de Cristo, (Romanos 3:21), é a couraça mais forte que um ser humano possa
possuir. As hostes espirituais de maldade não podem destruir um soldado de
Cristo. Um coração perdoado, limpo e justificado diante do Pai por meio do
sangue de Jesus inabilita o poder de Satanás sobre todo homem.
E calçados os pés na preparação
do evangelho da paz. Seria literalmente “calçar os sapatos”. O evangelho
da paz são os sapatos do soldado de Cristo. Eles são a base, aquilo que dá
sentido e propósito a seu caminhar pela vida, e também os que lhe permitem
manter a calma em meio da contenda espiritual. A confiança de haver crido no
Evangelho e ter alcançado salvação o faz competente para encarar qualquer desafio,
(Salmo 126:6). O exército do Senhor deve preparar-se para anunciar a
potencialidade do reino de Cristo.
A nossa guerra é pela paz.
Lutamos contra todos que se opõem a proclamação de evangelho da reconciliação
do homem para com Deus. O conceito da luta para o cristão é a favor da paz que
o coração de todo homem alcança ao aceitar a mensagem da salvação. O Senhor
quando comissionou aos seus discípulos lhes disse: E, em qualquer casa onde
entrardes dizei primeiro: Paz seja nesta casa. (Lucas 10:5). O soldado de
Cristo não é um agente de discórdia, ou um aparente defensor da religião sob o
argumento da discussão. Pelo contrário, é um mensageiro de Boas Novas, as quais
declaram aos homens que ainda sendo inimigos de Deus por causa dos seus pecados
podem alcançar paz para com Deus (Romanos 8:1).
Tomando sobre tudo o escudo da
fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.
O escudo (latín: scutum) é
a nossa confiança em Deus, a qual deve ser colocada ‘sobre tudo’, ou seja,
cobrindo tudo o que somos e as nossas experiências de vida. Esta proteção
externa pode parecer pesada demais e difícil de ser tomada, porém o imenso
benefício da defesa que nos proporciona faz que o soldado a tenha como
imprescindível. Os “dardos inflamados” são as línguas dos maus, cujas palavras
incrédulas e contrárias à palavra de Deus ficam ineficazes quando cair sobre o scutum
de Deus. Também, um exército que sabe usar adequadamente os escudos (como os
romanos) consegue grandes vitórias. A fé que trabalha em conjunto é uma forte
defesa para o povo de Deus.
Tomai também o capacete da
salvação. A
salvação é o capacete espiritual que protege a cabeça do soldado. Esta parte da
armadura é uma defesa vital, porque de uma cabeça sadia depende toda a saúde do
corpo. As questões relacionadas ao modo de pensar, ao controle da razão e ao
intelecto só podem ser ajustadas com o conhecimento da salvação que procede da
ação reveladora do Senhor. É necessário ajustar o capacete para não cair, e
isto é uma questão pessoal, pois cada um tem uma medida diferente para ser
ajustada. Dessa forma o saber humano deve ser ajustado pela Palavra de Deus a qual
é poderosa para atender à necessidade de cada cristão. Contudo, caso o capacete
caia no meio da batalha, o soldado ficará sem proteção.
E a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus. Esta é a arma ofensiva do soldado de Cristo. É a parte da armadura cujo
uso necessita de prática cotidiana. A disciplina e a prática farão que o
soldado saiba usá-la com habilidade. A espada é uma extensão do braço,
convertendo o corpo humano num elemento letal.
O cristão que vive uma vida
espiritual na defensiva, procurando somente usufruir das benções enquanto
espera o retorno do Senhor Jesus é uma imagem mesquinha que não representa a
mesma natureza ofensiva do Evangelho. Para vestir a armadura, em primeiro lugar
é necessário assumir a condição de soldado. Ver milhares de pessoas sendo
destruídas pelo mal, sujeitas de uma forma terrível as intenções de Satanás,
sem fazer nada, sem que aqueles que temos sido chamados para anunciar-lhes a
mensagem que pode salvá-los, é uma injustiça! Doutrinas que ensinam este tipo
de atitude fazem dos crentes indivíduos passivos, sem paixão pelo resgate dos
perdidos, e não tem forma de explicar porque a armadura de Deus proporciona uma
espada tão poderosa como é a Palavra de Deus para tê-la guardada nos museus
religiosos como um objeto para ser admirado, porém não utilizado.
Orando em todo o tempo com toda a
oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e
súplica por todos os santos (v.18). A oração é a última parte a ser vestida na
armadura de Deus. Significa que o soldado já vestido adequadamente para a
batalha espera as ordens do seu Senhor antes de combater. O soldado tem que
receber ordens, pois ele não pode e não deve se mandar sozinho. Portanto, não
depende do soldado elaborar a estratégia para a batalha. É uma grande benção
ver soldados equipados pelo seu Senhor, mas também sendo dirigido pelo mesmo
Senhor. A oração é o momento no qual o soldado está “de prontidão”, cuidando
que o rebanho que acolhe a todos os santos esteja livre dos ataques do maligno.
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