Eclesiastes 5.1-7
Introdução
Nesse final de ano e início de uma nova etapa, costumamos
fazer uma avaliação de nossas vidas. É uma ocasião em que procuramos Deus, em
adoração. É uma ocasião em que procuramos falar com Ele, pela oração. É a
ocasião em que, com frequência fazemos votos de mudança, alguma resolução.
Fazemos resoluções, votos a Deus e a nossos familiares, ou, a nós próprios,
sobre coisas que pretendemos mudar. Muitas caem no esquecimento, depois de
alguns dias. Muitas trazem frustrações, por nossa displicência, ou incapacidade
de cumpri-las.
É importante que tenhamos uma visão da verdadeira adoração.
É importante que nos conscientizemos da importância da oração. É importante que
tenhamos a resolução de querermos mudar nossa vida, de querermos conformá-la
cada vez mais aos princípios de Deus. Mas é igualmente importante que não
adoremos mecanicamente, que não oremos relaxadamente, que não venhamos a falar
ou pensar precipitadamente. É necessário que não venhamos a dar mais
importância aos votos, em si, do que à lealdade que já devemos a Deus.
Gostaríamos de ir até o livro de Eclesiastes - "O
Pregador". Atribuído a Salomão. Palavras de sabedoria sobre a futilidade
da vida sem Deus. O autor critica os diversos aspectos da vida. Muitas vezes
nos espantamos com o pessimismo de suas observações, mas o livro deve ser
entendido em sua totalidade. Nos primeiros quatro capítulos ele foi só crítico.
No capítulo 5 ele nos dá sua primeira exortação Ouçamos o que o Pregador tem a
nos dizer sobre esses conceitos de adoração, oração e resolução (ler Ecl.
5.1-7).
Corpo do Sermão, verso a verso:
A. ADORAÇÃO
1. Guarda o pé, quando entrares na Casa de Deus; chegar-se
para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que
fazem mal.
Guardar o pé - costume oriental que denota respeito e
reverência - referência física à retirada das sandálias, como sinal de respeito
ao local que está sendo pisado. Na Bíblia, temos isso no incidente de Moisés
perante a Sarça Ardente (Ex. 3.5) e quando Josué encontra o Anjo, no cerco de
Jericó (Js 5.15). É verdade que Deus é onipresente. O mundo pertence a Deus.
Nesse sentido, todo lugar é sagrado, mas Deus nos ensina, em sua palavra, que
alguns lugares são mais simbólicos de sua presença - daí a necessidade de
reverência em sua casa, na igreja. Não pelo prédio em si, mas pelo o que ele
representa.
Ouvir [obedecer] é melhor do que a participação formal na
oferenda de sacrifícios - o ensino é que a obediência sincera, de coração, a
Deus, é superior à participação religiosa meramente cerimonial. O formalismo
produz auto-justiça, resulta não em BEM, mas em MAL, para o praticante. Dá a
impressão de que tudo está bem, perante Deus. Deus quer obediência (Dt 10.12)
em sinceridade, dos seus fiéis verdadeiros. No meio de todo o formalismo e
cerimonial do Antigo Testamento, esse é um ensinamento repetido (Sl 51:16,17;
Pr 21:3; Jer 6:20; 7:21-23; Am 5:21-24).
B. ORAÇÃO:
2. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se
apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e
tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.
O cuidado de nossas palavras, perante Deus (que deve ser
também perante todos: Tg 1.19 e 4.11) - Deus transcendente, ou Deus imanente?
Este verso ensina a transcendência de Deus. A visão de um Deus só imanente leva
ao panteísmo. É necessário que tenhamos uma visão correta de quem é Deus. A
familiaridade excessiva é prejudicial ao nosso respeito e reverência. A
advertência deve ser entendida com relação à oração e está em harmonia com o
que Cristo ensinou na oração dominical, em Mt 6.9 ("Pai nosso, que estás
no Céu..."). O aviso é também com relação a questionamentos indevidos a
Deus, bem como a comprometimento, como ficará claro nos versos seguintes.
3. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito
falar, palavras néscias.
O envolvimento excessivo (intenso) no trabalho, produz
sonhos - situações e projeções que não são reais (isso é um provérbio da
época). O envolvimento excessivo nas palavras, produz frases vazias - néscias,
sem entendimento. Pensamento é repetido e expandido em 5.7. Na mesma oração
dominical, temos "Quando orardes, não useis de vãs repetições..." -
Mt 6.7. Terço Bizantino - "Salva a minha alma, Senhor Jesus...". Os
profetas falsos, de Baal, no confronto com Elias, falavam, repetiam, gritavam,
se dilaceravam - tudo em vão.
RESOLUÇÃO:
4. Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em
cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes.
Cuidado com os comprometimentos perante Deus (Lei não
comandava, mas regulava). Não é preciso um novo ano, para aferirmos os nossos
votos. Em nossa vida, naturalmente, fazemos votos solenes. Em todas as áreas -
membrezia (à igreja, ao seu governo e à sua doutrina), batismo (sobre nossos filhos),
casamento (à esposa ou esposo). Pastores, declaram lealdade aos padrões
confessionais. Com que facilidade esses votos são quebrados...
5. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras.
A grande responsabilidade dos votos - Dt. 23.21-23. Não podem
ser feitos com frivolidade. Temos consciência dos votos que temos feito perante
Deus?
6. Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas
diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria
Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos?
Não se colocar voluntariamente em uma situação de
dificuldade - votos impensados. Quando prometemos, na igreja, o fazemos diante
de Cristo e do pastor - mensageiros. Não utilizar desculpas falsas ("foi
um engano..."; "foi um lapso...").
7. Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim
também, nas muitas palavras; tu, porém, teme a Deus.
A atitude comandada - não sejamos como os tolos. Não votemos apressadamente. Deus demanda
seriedade incondicional. Temamos a Deus. Isso significa respeito, reverência,
mas também observância de Sua Palavra, de Seus preceitos. Adoração verdadeira,
oração consciente, resolução de obedecer.
Conclusão:
Nesse ano novo, não precisamos votar mais do que já nos comprometemos.
Não é errado querermos modificar o que não está correto. Não é errado,
querermos mudar nossas atitudes para com aqueles que nos rodeiam. Mas,
essencialmente, temamos ao Senhor. Reverenciemos a Ele. Cumpramos os votos já
assumidos. Voltemos nossos olhares para Ele em obediência aos seus
ensinamentos. Supliquemos pela ação do Espírito Santo, em nossas vidas, para
nos iluminar o entendimento e nos trazer para mais perto da sua Lei.
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