A prática da leitura da Palavra de Deus é a arte de procurar
o Senhor nas páginas das Sagradas Escrituras até achar. É a arte de enxergar
toda a riqueza que está por trás da mera letra, de ouvir a voz de Deus, de
relacionar texto com texto e de sugar todo o leite contido na Palavra revelada
e escrita, tanto nas passagens mais claras como nas passagens aparentemente
menos atraentes, mediante uma leitura responsável e o auxílio do Espírito
Santo. ABíblia é a Palavra de Deus. Isso quer dizer muita coisa.
Significa que ela encerra a auto revelação de Deus e
expressa toda a sua vontade em matéria de fé e conduta.
Significa ainda que você não se encontra desesperadamente em
estado de absoluta desinformação quanto a Deus, quanto à vida e quanto à
eternidade. Você tem em sua própria língua um livro que revela todo o programa
de Deus, uma espécie de enciclopédia que fornece toda sorte de informação
teológica necessária, um manual de avaliação que mostra a diferença entre o
certo e o errado. Além de inspirada por Deus, toda Escritura é extremamente
útil (2 Tm 3.16).
Ela fornece alimento para o espírito: “Não só de pão viverá
o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4, citando Dt
8.3). Ela gera conhecimento, fé, convicção e esperança. Ela promove comunhão
com Deus e comunhão com os homens. Ela produz conforto em meio a lágrimas e
angústias. Ela repreende e corrige, “a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Tm 3.17). Ela serve de ponto
de apoio em situações adversas: “Sobre a tua palavra lançarei as redes” (Lc
5.5). Ela exerce influência poderosa nas tomadas de decisão. Ela cria uma
mentalidade religiosa. Ela se acomoda nos porões do subconsciente e forma uma
bagagem de valor inestimável, que aflora naturalmente nos momentos mais
necessários.
INGESTÃO
Contudo, para que esse enorme volume de riqueza se torne
seu, é necessário “comer” a Palavra de Deus, à semelhança de Ezequiel, que
encheu as suas entranhas do rolo de um livro (Ez 2.8-3.3). Basta comer. O resto
é com Deus. A ingestão da Sagrada Escritura depende de você. Trata-se de um
exercício voluntário, consciente e pessoal. Faz-se isso por meio da leitura
cuidadosa e regular da Palavra. A leitura formal, superficial, ocasional,
desordenada ou supersticiosa rende muito pouco ou nada. Bem como a leitura
feita para satisfazer apenas o intelecto. O Senhor diz: “Abre bem a tua boca e
a encherei” (Sl 81.10). Você precisa aprender a arte de “abrir a boca” para
meter a Palavra de Deus dentro do espírito.
DIGESTÃO
Diferente da ingestão, a digestão é a assimilação da Sagrada
Escritura em seu interior. O processo é inconsciente, automático e
irreversível. Uma vez ingerida, a Palavra que sai da boca de Deus é como a
chuva e a neve que descem dos céus “e para lá não tornam, sem que primeiro
reguem a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao semeador e
pão ao que come”. A Palavra de Deus não volta para Ele vazia, mas fará o que
lhe apraz, e prosperará naquilo para que Ele a designou (Is 55.10, 11). Você
não pode perder a noção e a certeza de que “a Palavra de Deus é viva e eficaz,
e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos
e propósitos do coração” (Hb 4.12). Em outras palavras, uma vez corretamente
lida, a Escritura Sagrada provoca uma revolução dentro de você, desce aos
lugares mais profundos, mexe em tudo. Essas coisas acontecem por causa do valor
intrínseco da Palavra e por causa da operação do Espírito Santo.
METODOLOGIA
Para ser altamente proveitosa, a prática da leitura da
Palavra de Deus depende da qualidade do empreendimento, que se consegue depois
das seguintes providências:
1. Ler.
Percorra com a vista
o que está escrito, proferindo ou não as palavras. Tome conhecimento do texto:
“Buscai no livro do Senhor, e lede” (Is 34.16). O rei de Israel deveria
escrever um tratado da lei do Senhor para ler todos os dias da sua vida (Dt
17.18-20).
2. Meditar.
Meditar é mais do que ler. Examine o texto lido. Reflita
sobre ele. Gaste algum tempo para ficar por dentro da mensagem que o texto
encerra. Veja a disposição do salmista: “Os meus olhos antecipam as vigílias
noturnas, para que eu medite nas tuas palavras” (Sl 119.148). Só neste Salmo, o
verbo meditar aparece seis vezes. Aquele que medita na lei do Senhor de dia e
de noite “é como árvore plantada junto a corrente de águas” (Sl 1.3).
3. Memorizar.
Meta na cabeça o que você leu e meditou. Entregue-o à
memória, retenha-o, não o deixe escapar. Decore, se não as palavras, pelo menos
a mensagem do texto lido. Guarde-a na despensa interior. Veja o propósito do
salmista: “Induzo o coração a guardar os teus decretos, para sempre, até ao
fim” (Sl 119.112). Para precaver-se do pecado, o jovem deve conservar dentro de
si os mandamentos de Deus e escrevê-los na tábua de seu coração (Pv 7.1-3).
4. Inculcar.
Enfie bem para dentro a Palavra de Deus. Coloque-a nas
entranhas, “no mais íntimo do teu coração” (Pv 4.21). Torne-a propriedade
pessoal. Provoque uma impregnação da Sagrada Escritura em todo o seu ser. Era
isto que Israel tinha de fazer com as crianças: “Estas palavras que hoje te
ordeno [...] tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te” (Dt 6.6-9).
5. Conferir.
Compare texto com texto. Não só para descobrir o sentido
exato da passagem lida, mas também para enriquecer o seu conhecimento de toda a
Escritura, consultando outras passagens paralelas. Por exemplo, digamos que
você esteja lendo a Epístola de Paulo a Tito e encontre a frase: “Estas coisas
são excelentes e proveitosas” (Tt 3.8). A partir daí você pode descobrir várias
coisas excelentes ao correr da Bíblia: o mais excelente nome (Hb 1.4), o mais
excelente sacrifício (Hb 11.4), o mais excelente óleo (Am 6.6), o mais
excelente caminho (1 Co 12.31), a excelência do episcopado (1 Tm 3.1), o
espírito excelente de Daniel (Dn 5.12) e a menção a Rúben, “o mais excelente em
altivez, e o mais excelente em poder”, contudo “impetuoso como a água” (Gn
49.3-4). Ora, esse esforço é altamente compensador. Esclarece, edifica,
enriquece e lhe dá uma visão global das Escrituras.
6. Lembrar.
Aprenda a fazer uso prático do que foi guardado na memória e
nas entranhas. Retire do computador o que já foi digitado, retire do banco o
que já foi depositado, retire da despensa o que já foi armazenado, e sirva-se à
vontade. Você nunca vai ficar na mão, sem assistência, sem tratamento, sem pão.
É só lembrar e aplicar. É nesse sentido que Jesus disse: “Lembrai-vos da mulher
de Ló” (Lc 17.32). Fez muito bem a Pedro lembrar-se de que Jesus lhe dissera:
“Hoje três vezes me negarás, antes de cantar o galo” (Lc 22.61).
SUGESTÕES
Por causa do temperamento, do estilo pessoal de ler e de
estudar e da disponibilidade de tempo, cada um deve descobrir e adotar a
maneira própria mais indicada de ler a Bíblia.
Os métodos alheios servem apenas de exemplos. Todavia,
considere mais estas sugestões:
1. Reserve a hora mais propícia do dia para ler a Bíblia.
Isso varia muito de pessoa para pessoa. Seja exigente nesse
sentido e evite a hora menos propícia.
2. A preocupação maior deve ser com a qualidade da leitura,
e não com a quantidade. Você não precisa ler a Bíblia durante o ano, mas
precisa ler a Bíblia com proveito o ano inteiro.
3. Procure ler toda a Bíblia — não necessariamente de
Gênesis a Apocalipse. Leia grupos de livros: os livros poéticos, as Cartas de
Paulo, os profetas menores, o Pentateuco, os quatro Evangelhos, os livros
históricos e assim por diante. Para seu controle pessoal, marque a data do
início e do final da leitura de cada livro.
4. Sublinhe o que você achar mais interessante. Faça
pequenas notas às margens ou em um bloco à parte. Por uma questão de ordem, é
bom numerá-las. Uma numeração para cada livro lido. O esforço de escrever as
notas torna a leitura e a meditação mais sérias e ajuda a memorizar as lições
aprendidas.
5. Use a Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do
Brasil, baseada na Edição Revista e Atualizada no Brasil da Tradução de João
Ferreira de Almeida, para conferir escritura com escritura.
6. Havendo tempo, quando necessário, consulte outras versões
em português (ou outras línguas) e a paráfrase A Bíblia Viva, para entender
melhor o texto e fugir da rotina de uma mesma tradução a vida inteira. Além da
tradução de Almeida, a mais usada, você pode recorrer às antigas traduções de
Figueiredo e Versão Brasileira e à mais recente, A Bíblia na Linguagem de Hoje.
7. Só consulte as notas de rodapé, comentários e dicionários
bíblicos depois do esforço próprio de entender o texto. Evite a preguiça
mental.
8. Peça sempre o auxílio do Espírito Santo para entender as
Escrituras e se beneficiar delas, seja por meio de uma pequena oração ou por
meio de uma atitude de dependência e humildade. É o Espírito quem levanta o véu
e deixa você ver a riqueza toda que está por trás da mera letra.
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