O
ato de dirigir a Escola Bíblica é bastante abrangente. A pessoa escolhida para
este fim não pode restringir sua ação a um mero acompanhamento do funcionamento
das classes no domingo. Há muito o que fazer! Os diretores de EBD que não contam
com a orientação de um Conselho de Educação Religiosa podem buscar a assessoria
de profissionais da educação que são membros da igreja, e, assim, encaminhar
ações que contribuam para o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem.
Pretendemos com este trabalho oferecer subsídios para aqueles que desejam
exercer uma interferência pedagógica na EBD, e, consequentemente, desenvolver
na igreja um estudo bíblico com qualidade.
Duas
questões centrais precisam fundamentar o fazer pedagógico do diretor da EBD:
Como favorecer a ministração de um ensino bíblico relevante? E o que fazer para
melhorar a EBD? Segundo Gagliardi Junior, três elementos envolvidos no processo
de ensino por si só garantem a relevância desse processo:
"O que se ministra - a Palavra de Deus;
a quem se ministra – homens e mulheres, criaturas de Deus; e para que se
ministra – para expansão do Reino e glória de Deus."
Diante
disso, não podemos nos contentar com qualquer ação. Precisamos estar atentos no
processo como um todo, na relação professor-aluno e aluno-aluno, na dinâmica
organizacional e na formação dos professores. O que, com certeza, nos ajudará a
melhorar a EBD e a buscar a sua relevância.
Nosso
desejo é que, as questões que abordaremos a seguir, sejam assumidas como
material sugestionador. Apontaremos caminhos que, acreditamos, contribuirão
para o redimensionamento do trabalho.
Planejamento
Definir
os caminhos da ação é fundamental para o desenrolar do processo e um bom começo
para a direção da EBD. Esta importante etapa, segundo Danilo Gandin, pode se
dar através da caracterização da realidade existente, projeção da realidade
desejada e definição das necessidades. Entre o que se tem e o que se quer, há
uma distância que pode ser encurtada com a satisfação das necessidades.
"Planejar é, de fato, definir o que
queremos alcançar; verificar a que distância, na prática,estamos deste ideal e
decidir o que se vai fazer para encurtar esta distância."
Formação
Continuada dos Professores
A
direção da EBD precisa ser criteriosa na composição do corpo docente. Os
professores devem ser bem escolhidos e preparados. Ser fiel, assíduo, pontual e
sujeito da práxis (teoria e prática dialeticamente integradas) são alguns viés
do perfil deste educador. O preparo precisa se consolidar através de um
programa de formação continuada que contemple ações integradas e
progressivamente dinamizadas.
Cremos
que um diretor de EBD pode contribuir para a formação de sua equipe,
encaminhando, entre outras coisas:
- Reunião Pedagógica periódica para estudo, reflexão, troca de experiência, avaliação e redirecionamento da proposta de trabalho.
- Visão Panorâmica da Unidade Temática em estudo, para abordagem dos conceitos principais e levantamento de questões para aprofundamento.
- Cursos que explorem aspectos diversos, a partir das necessidades dos professores: Interpretação Bíblica; Metodologia de Ensino, Preparação de Aulas; Aprofundamento Teológico; entre outros.
- A organização de uma biblioteca básica, adquirindo, pelo menos, a cada período, um comentário bíblico a respeito do assunto em estudo.
- A entrega de material complementar como, por exemplo, comentários bíblicos que possam esclarecer o texto a ser estudado.
- Pesquisas para levantamento das necessidades.
Ministração
do Ensino
Um
diretor de EBD precisa incluir em seu plano de ação o acompanhamento do
processo ensino-aprendizagem. Não basta definir o que vai ser ensinado, é
fundamental que se preocupe com o como vai ser ensinado.
Uma
grande dificuldade da Escola Bíblica tem sido justamente o encaminhamento de
aulas meramente expositivas, centradas predominantemente no professor. Sendo
nossa meta um ensino bíblico com qualidade, devemos considerar a possibilidade
de que este aconteça a partir de um trabalho educativo participativo.
O
diretor pode ajudar, criando oportunidades, como as que descrevemos
anteriormente, em que o corpo docente seja confrontado com uma proposta de
ministração de ensino em que se priorize a ação do aluno e do professor. Onde
situações de ensino sejam planejadas para possibilitar a participação do aluno
de uma forma tão efetiva quanto a do professor. O bom professor é aquele que
consegue provocar nos seus alunos uma louca vontade de aprender o tema em estudo. E aprender é
construir, é lidar com um conhecimento que se articula a partir de uma idéia
mental criativa. Logo, só ouvir não dá conta do processo. É necessário forçar o
exercício mental construtivo do aluno.
Relação
Professor-Aluno e Aluno-Aluno
É
extremamente valioso quando há um envolvimento maior entre o aluno e o
professor. Expresso, inclusive, em experiências da vida real que extrapolem os
limites das aulas semanais. É importante que o aluno veja, na prática, na vida
do seu professor o que ele ensina. Quando o professor interessa-se pessoalmente
pelos seus alunos, aconselhando-os e ajudando-os em tudo o que for possível,
está contribuindo decisivamente para um ensino relevante.
Os
alunos também precisam ser estimulados ao exercício da mutualidade. Isto é,
ministrarem uns aos outros, a fim de construírem a unidade.
Como
vemos, o relacionamento interpessoal é um aspecto tremendamente significativo,
não podendo deixar de ser considerado pela direção da EBD. Atividades
extra-classe, células de comunhão, discipulado... são alguns procedimentos que
podem ser encaminhados pelo diretor. Mas, sobretudo, insistir no
desenvolvimento de uma relação dialógica, quando, nas aulas, os alunos
sentem-se a vontade para colocar suas questões, compartilhar experiências, e o
professor, habilmente, aproveita as diferentes falas e situações para a exploração
do conceito em estudo. É a busca pelo predomínio da troca, da partilha, da
comunhão, do cuidado uns com os outros...
Dinâmica
Organizacional
Para
que as iniciativas já comentadas provoquem resultados minimamente
satisfatórios, torna-se necessário o cuidado com as condições para o trabalho.
Nesse sentido, é ação também do diretor atentar, entre outras coisas, para os
critérios de formação dos grupos de estudo, a quantidade de alunos possível, o
horário de funcionamento, o material que vai ser utilizado e os registros
atualizados.
Os
grupos de estudos ou as classes, como comumente são chamadas, não devem
obrigatoriamente ser divididas por faixa etária e sexo. O que deve definir a
organização é a proposta curricular. Um curso básico precisa ser criado para os
iniciantes. Após o término do curso básico, comum a jovens e adultos, estes,
então, poderão ser inscritos em classes ou departamentos, sem que haja, no
entanto, rigidez neste critério e forma. Por que não organizar os grupos por
interesses, conhecimentos bíblicos, escolaridade?
Quanto
a quantidade ideal de alunos, temos a dizer que os grupos não devem ser
grandes. Preferencialmente não exceder a 20 alunos para cada professor.
Justamente para facilitar uma ministração de ensino a partir de um trabalho educativo
participativo, com o predomínio da relação dialógica e o cultivo de um bom
relacionamento interpessoal entre todos.
O
horário de funcionamento, assim como o tempo dedicado ao ensino, não devem
ficar presos a costumes e hábitos. A Escola Bíblica não tem que necessariamente
ser dominical. E o tempo de aula deve ser o maior possível.
Assim
como nos demais aspectos, o que deve definir a escolha do material a ser
utilizado é a proposta curricular. Esse material, contudo, não pode resumir-se
a revista. Verificamos que a utilização da revista é uma prática comum para
facilitar e, de certa forma, uniformizar o estudo bíblico ministrado em nossas
igrejas. É bom que os alunos possuam um material que lhes auxilie na descoberta
e arrumação dos conceitos bíblicos. Podendo ser a revista ou não. O que não é
bom é que este material deixe de ser um auxílio e passe a ser um fim em si
mesmo. O encaminhamento da aula não pode limitar-se ao estudo da revista. Nosso
conteúdo é o teológico, e a Bíblia é o livro-texto. Precisamos, como nos indica
Gagliardi Junior,
"...contar com
ortodoxia de conteúdo. Isto é ter a Bíblia como o seu livro-texto e ser fiel a
ela em seus ensinos e doutrinas."
A
organização pedagógica da EBD precisa considerar a utilização de instrumentos
que garantam a atualização dos registros: Cadastro dos professores; ficha
individual dos alunos; fichário de alunos em perspectiva e anotação das
visitas. Estes dados ajudarão nos diferentes encaminhamentos do trabalho.
Proposta
Curricular e Avaliação Periódica
Em
vários momentos nos reportamos a necessidade de definição da proposta
curricular. Esta se constitui no eixo direcionador do trabalho. O diretor que
deseja exercer uma ação significativamente pedagógica, não pode abster-se de se
envolver nesta área.
O
currículo implica numa série de fatores: alunado a que se destina, realidade,
necessidades... Não é tarefa nossa, nesse Encontro, discutir os caminhos de sua
construção. Pontuamos, no entanto, a necessidade da direção da EBD ampliar a
sua visão em relação a esse aspecto. Um procedimento que pode ajudar bastante,
aliviar a carga de responsabilidade do diretor e facilitar a articulação desta
construção, é a organização de uma comissão de currículo. Esta comissão pode
ser formada pelo pastor da igreja, por um pedagogo e por um professor da EBD.
Juntos, encontrarão, mais facilmente, meios de avaliar, pesquisar e definir os
ciclos de estudo adequados a realidade e necessidade da igreja.
A
avaliação precisa ser assumida como aliada. Com a função de diagnosticar o processo,
ela sinalizará os acertos a serem feitos. Assim, o diretor da EBD deve prever a
sua prática sempre. Cada ciclo de estudo precisa ser avaliado. Colher, através
de pesquisas, a opinião dos alunos sobre o programa e desenvolvimento da classe
e sobre o desempenho dos professores, é uma das etapas avaliativas. A outra
deve referir-se à aprendizagem, e pode acontecer através de exercícios ou
questões subjetivas. O processo avaliativo deve estar intimamente articulado à
proposta curricular.
Divulgação
Divulgar
a EBD é uma estratégia que, com certeza, influenciará no pedagógico. A
criatividade do diretor e sua equipe produzirá boas idéias. Para exemplificar,
contudo, destacamos algumas dicas sinalizadas por Olga Nogueira Sant’Anna em
seu artigo: Por onde recomeçar?
- Cartas aos faltosos e membros da igreja que não são alunos, convidando para novos cursos, classes ou projetos que foram planejados.
- Cartazes, faixas, mural da EBD, boletim da EBD, etc.
Um
diretor de Escola Bíblica que não deseja reduzir a sua ação ao ato de abri-la e
fechá-la, tem pela frente uma longa jornada, perpassada de muitos caminhos e
descaminhos. O trabalho coletivo é uma saída. Aliar-se a pessoas da igreja que
militam na área de educação, mas sobretudo, com experiência de vida cristã, é uma
atitude a ser buscada.
São
muitas as propostas e grandes os desafios. Esperamos que o Senhor nos capacite
e nos ajude a ampliar nossa visão e alcançar novos horizontes em educação
religiosa.
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