Jonas inspira
muitos sermões acerca da desobediência. Este livro de apenas quatro capítulos
serve para diversos pregadores mostrarem sua eloqüência e pregarem duros
sermões. Diz o texto bíblico que Deus ordenou que Jonas fosse até a cidade de
Nínive e pregasse contra o seu pecado. Nínive era capital da Assíria, nação
poderosa e com um exército temível e terrível. Foi uma grande potência mundial
no seu auge.
Os assírios,
ao conquistarem determinado povo, o torturavam e massacravam. Eles pegavam seus
?novos escravos? e arrancavam as orelhas, o nariz, dedos, etc. Chegavam a furar
os olhos dos pobres coitados. Os soldados ninivitas tinham uma crueldade fora
do comum. Misericórdia era uma palavra desconhecida. Seu intento era rebaixar
ao máximo e humilhar as nações que venciam. E os assírios eram inimigos dos
judeus. Agora imaginemos Deus se chegar a Jonas e mandá-lo pregar a este povo
cruel, que tinha torturado e matado muitos do seu povo? O texto dá a entender
que Jonas não tinha um conceito desenvolvido da onipresença de Deus e fugiu
para a cidade de Társis. Ele achou que os olhos de Deus estavam somente sobre
Israel.
Parece que
satisfaz nosso ego encontrar alguém que tenha mais características ruins do que
nós. Quando vemos assassinos diariamente nos noticiários, parece que nossos
defeitos ficam um pouco escondidos. Como explanou o Rev. Caio Fábio em um de
seus sermões: ?A sociedade não queria que o endemoninhado gadareno fosse
liberto. Aquele homem fora dos padrões desviava a atenção para si, e os
defeitos das pessoas ?mais normais? ficavam escondidos. Aquele homem quebrava
as correntes, mas se colocassem correntes mais fortes, uma hora quebraria os
ossos dele, e não as correntes. Aquele homem poderia bater em 5, 10 ou até 15
homens, mas será que bateria em 100 homens? O endemoninhamento tem um limite. E
o engraçado é que ele nunca morria de fome, com certeza alguém sempre levava
uma comidinha para o endemoninhado continuar ali naquela situação. Não era
interessante ele se tornar uma pessoa normal, por isso era melhor deixá-lo como
estava, para que as pessoas da cidade sempre tivessem algo para comentar e seus
defeitos não ficariam tão evidentes. Quando Jesus o libertou, pediram a Jesus
que se retirasse da cidade?. (Resumi o que ele disse com minhas próprias
palavras).
É tão fácil
falar da desobediência de Jonas, mas você faria diferente? Você pregaria para
os assassinos de teus filhos? Evangelizaria o estuprador de tua irmã? Ou
falaria do amor divino para pessoas que mutilaram alguém da tua família? Aí a
nossa visão crítica sobre a fuga de Jonas começa a mudar. Não estamos
justificando a atitude de Jonas, mas creio que ele teve motivos mais
justificáveis para sua obediência do que nós para alguns de nossos pecados. O
pregador que chama Jonas de desobediente muitas vezes é o mesmo que fica com
inveja quando aparece outro pregador melhor. O crente que crítica Jonas por não
ter pregado aos ninivitas em diversas vezes é o mesmo que quase nunca fala de
Jesus para as pessoas. Cansamos de usar dois pesos e duas medidas. Deus queria
mostrar pra ele que sua misericórdia supera quaisquer conceitos filosóficos,
sociológicos ou até teológicos.
Embora
tivesse tido ?justos? motivos para não ter ido pregar em Nínive, Deus enviou um
grande peixe para tragar Jonas. A ciência e os teólogos liberais olham para
esta passagem como uma lenda, ou, no máximo, uma história fictícia que ensina
boas lições espirituais. Temos um caso semelhante fora da Bíblia. Um homem
chamado James Bartley, por acaso, ou porque Deus quis mesmo, (vai saber...) foi
engolido por uma baleia. Os marinheiros que estavam com ele conseguiram
capturar a baleia e a mataram. Quando abriram a baleia, viram algo se mexendo
dentro dela. Viram que era James, ele estava vivo!!! Quase morreu no hospital,
mas depois de aproximadamente 30 dias voltou a si. Ele ficou com a pele esbranquiçada
por causa de uma substância que existe dentro da baleia.
Agora imagine
comigo: Um judeu andando entre os assírios, com a pele toda esbranquiçada,
dizendo que a cidade seria destruída em 40 dias (Jn 3:4). Creio que os
ninivitas pensaram se tratar de um ser de outro mundo ou alguma divindade.
Imediatamente começaram a se arrepender, se humilhar, etc. Até mesmo o rei
temeu a mensagem e proclamou um jejum. O objetivo da mensagem tinha sido
atingido, a conversão de uma cidade inteira. Qualquer evangelista teria ficado
cheio de júbilos se tivesse tido o sucesso de Jonas. Mas Jonas ficou triste a
tal ponto que quis morrer. O desejo de Jonas era que Deus destruísse a cidade
inteira para vingar o povo de Israel (Jn 4:2,5). Era um profeta, mas não
deixava de ser humano.
A
misericórdia divina supera nossos conceitos. Aquele que achamos que não tem
mais jeito, de repente se converte. Deus ama as pessoas, e é difícil para nós
entender isto. Às vezes achamos que Deus ama instituições. Às vezes achamos que
Deus ama apenas os evangélicos. Às vezes achamos que Deus tem que ter paciência
apenas conosco, não com o nosso vizinho. Quantos erros cometemos com nossas
?achologias?. Até mesmo o profeta erra. O pastor também se equivoca. O teólogo
não sabe tudo sobre Deus. Ele teve misericórdia do profeta desobediente e da
cidade sanguinária. Teve misericórdia de mim e de você. Fico por aqui, não há
como expressar com palavras a graça de Deus...
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