“E
perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunão, no partir do pão e nas
orações. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos
pelos apóstolos. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade
de cada um. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em
casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus, e
caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja
aqueles que iam sendo salvos” (Atos 2:42-47).
Líderes,
devolvam a minha igreja.
Eu confesso
que acho esta frase um pouco pesada. Mas admito que ela faz sentido em se
tratando da Igreja Evangélica no Brasil. Partindo, então, deste princípio, em
que os líderes estariam usurpando a igreja de Jesus?
1 – Na ênfase
da pregação
Em toda a
história da Igreja Evangélica no Brasil, nunca se vendeu tantos livros e se fez
tantas palestras e conferências sobre como fazer uma igreja crescer. Esse
processo evidencia que algumas lideranças estão trocando a ênfase dada por
Jesus no amadurecimento da igreja pela lógica do crescimento. É preciso
entender que o crescimento da igreja é problema do Espírito Santo. O texto
bíblico acima mostra que os apóstolos ensinavam e os discípulos perseveravam
nas doutrinas, aprendendo que a obra de Deus é o próprio homem, aprendendo que
estão sendo transformados segundo a imagem de Jesus Cristo.
Deus quer que
tenhamos o caráter de Jesus. Ser cristão é sair do estado de rebelião para o
estado de adoração, e adorar é reconhecer que a vontade de Deus é o que existe
de correto no universo. Cultuar a Deus é fazer tudo que Jesus faria se
estivesse em nosso lugar. Na igreja de Jerusalém os membros estavam crescendo
em ser como Jesus, e crescer é viver em comunidade.
Os líderes
precisam compreender que pastorear não é trabalhar até que se tenha uma
congregação imensa, mas investir no ser humano de tal modo que ele aprenda a
ser como Jesus e a amar cada vez mais os outros irmãos. Quando a ovelha está
com um problema, ensina-se a ele a lidar com aquela situação da forma como
Jesus lidaria. Se ela desenvolve antipatia por um semelhante, mostra-se a ela
que é preciso olhar para aquela pessoa como Jesus olharia.
Mas este
movimento que faz as lideranças buscarem desesperadamente pelo crescimento
numérico está levando a igreja a ficar cada vez mais egoísta. As músicas
demonstram isso. Onde está o “nós”? As canções só se referem à primeira pessoa,
como se não fosse importante que a obra de Deus alcançasse a comunidade, mas
apenas o indivíduo. Isso está fazendo o homem acreditar que tudo é para ele.
Olhando para
a história bíblica, veremos que Moisés abriu o mar, quando estava libertando escravos;
Jesus dominou o vento e a tempestade quando estava indo libertar o gadareno; o
mesmo Cristo multiplicou os pães e os peixes para alimentar uma multidão. Mas,
hoje, qual é a motivação para se buscar milagres?
Os apóstolos
levavam os discípulos a orar, a ler a Bíblia, a crescer espiritualmente em prol
da comunidade. Na congregação desenvolvia-se o sentimento de união, de
solidariedade. Os líderes atuais, entretanto, precisam tomar estes exemplos,
pois usurpamos a igreja e transformamos Deus em um criado.
2 – Na
mensagem
Ao iniciar o
seu ministério, Jesus dizia que o reino de Deus estava chegando. As pessoas
deviam se arrepender de suas práticas e jeito de ser errados. Elas deviam
reconhecer que carregavam dentro de si o mal. E, hoje, a mensagem continua
sendo a mesma, as pessoas continuam precisando admitir sua condição decaída de
pecado, continuam precisando reconhecer que são criaturas fora do padrão de
Deus.
Mas não se
fala mais que o indivíduo está em rebelião contra Deus. Temos transferido a culpa
para o diabo. No entanto, precisamos entender que são os homens que abriram a
porta do coração para ele entrar. E, ao invés de chamar a atenção do homem para
esta situação, os profetas estão trocando a mensagem do arrependimento pela
mensagem da bênção. “Venha buscar a sua bênção”, é o que se anuncia.
É por isso
que vemos tanta gente convertida, comprometendo-se em mudar mas sem condição de
assumir um novo caráter. Elas passam a freqüentar igrejas, mas não conseguem
deixar de mentir, adulterar, drogar-se, cobiçar. O interior delas não está
sendo trabalhado, a mensagem do arrependimento e da mudança de direção não está
sendo pregada, as pessoas não estão indo às igrejas para se tornarem
semelhantes a Jesus. Usar o nome de Deus com interesses próprios, para ganhar
dinheiro e status, é blasfêmia, porque é blasfêmia confundir o que santo com o
que é humano. E a igreja não está se importando, porque perdeu o temor de Deus.
A igreja não
se incomoda mais em se relacionar com Deus só para receber coisas. Outro dia,
soube de um rapaz que afirmou ficar sem dar glória a Deus até que o Senhor lhe
respondesse positivamente ao pedido que fez. O povo está perdendo o temor de
Deus, e quando se perde o temor de Deus, ganha-se medo do diabo, tornando-se
alguém supersticioso. Usurpamos quando não ensinamos que o homem deve temer a
Deus. A mensagem não pode mais ser “Venha buscar a sua bênção”. A mensagem tem
que ser “Arrependei-vos”.
Conclusão
A Bíblia
ensina que pastorear é ser exemplo. E ser exemplo é dizer ao rebanho o que
Paulo disse: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (I Co 11:1).
Primeiro, é necessário ser exemplo de arrependimento, mostrar que está em
constante quebrantamento diante do Pai celeste e que só está de pé porque Ele
sustém. O líder também tem de ser exemplo do que é ser ovelha de Jesus. Afinal
de contas, se não formos como Jesus, seremos como quem ?
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