Atos 9. 1-22
1. Introdução
Na data de 24 de maio, celebraremos, novamente, a
experiência do coração aquecido, do Rev. João Wesley, a qual, neste ano,
junta-se, no mês de junho, com a comemoração dos 300 anos de seu nascimento.
Por que os mais de 70 milhões de metodistas, em cerca de 140
países, se unem nestas celebrações? Será lícito desfocar de Jesus nossa atenção
para enfocá-la em João Wesley?
Porque ele é reconhecido como um homem de Deus, que foi
usado por Deus para levar milhares de pessoas aos pés de Jesus. Ele dizia:
“Nada saber senão ganhar almas”. Sua paixão era Cristo Jesus, e as pessoas que
ainda não conheceram o Salvador. Seu exemplo de santidade e de vida abençoada
tem sido citado em todas as denominações evangélicas, em todos os continentes.
Alguns historiadores afirmam que os avivamentos duram uma
geração, cerca de 30 anos. João Wesley rejeitou isso, pois em seu tempo o
avivamento metodista já durava 50 anos.
Hoje, podemos dizer que o avivamento metodista segue vivo em
várias partes do mundo. Na última década, os metodistas cresceram de 62 milhões
para 72 milhões no mundo todo, ou seja um milhão de vidas alcançadas para
Cristo por ano. Sim, somos partes de um grande avivamento, que está longe de
morrer.
E, neste avivamento metodista, a experiência com Deus foi
decisiva para João Wesley e para seus companheiros. Vejam, segundo João Wesley,
uma dessas experiências com Deus: “A autenticidade da conversão não se comprova
pelo ato de derramar lágrimas, cair no chão, ou por outro tipo de manifestação.
Pessoas mudaram radicalmente de vida, de um momento para o outro. Antes eram
malvadas e impiedosas, e tornaram-se santas e justas. Leões foram transformados
em cordeiros, o beberrão agora é exemplo de solidariedade, a prostituta mudou
de vida e converteu-se em mulher virtuosa." Para os céticos e os mais
tradicionalistas que questionavam os acontecimentos em Bristol, argumentando
que os fatos espetaculares podiam ser explicados racionalmente, Wesley apontava
os exemplos da ação de Deus, prontos para serem vistos e compreendidos. Ele
retrucava: Preguei ao ar livre, durante o dia, a um público superior a duas mil
pessoas, sobre: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. (Sl 46. 10). Antes que
dissesse qualquer coisa, Deus começou a estender seu braço poderoso. Em pouco
tempo, sete pessoas estavam regozijando-se e cantando. Com todas as suas forças
davam graças a Deus por sua salvação.[1]
Fica claro que para Wesley a manifestação do poder de Deus
podia se dar de muitas formas, mas sempre para salvação dos perdidos, ou para
santificação dos salvos (Barbosa, José Carlos – Adoro a sabedoria de Deus –
Itinerário de João Wesley, o Cavaleiro do Senhor, Ed. UNIMEP, Piracicaba, 2002,
p. 244).
2. Uma experiência bíblica – Atos 9. 1-22
Paulo dá testemunho de sua experiência de conversão, em Atos
dos Apóstolos, por três vezes. A primeira é relatada por Lucas e as outras
duas, pelo próprio Paulo, perante o Sinédrio, e perante o Rei Agripa.
A experiência com Deus ocorre sempre em momentos de busca.
Paulo buscava a pureza religiosa do Judaísmo, e, ele mesmo, diz que era zeloso
da lei e seus preceitos (cf. Fp 3. 6). Sim, as crises pessoais e comunitárias
criam espaços de busca da presença de Deus.
No relato, ele deixa claro que precisava muito de Deus. O
texto diz: “Paulo, respirando ameaças de morte contra os discípulos do
Senhor...” (At 9. 1). Paulo era um “religioso”; mas não tinha paz; em seu
coração havia ódio; algo estava errado. Quem conhece o Deus da Bíblia não pode
abrigar ódio em seu coração! Sim, nada nega mais a presença de Deus do que o
ódio, mágoas e ressentimentos contra outras criaturas de Deus.
a. “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9. 4).
Esta frase célebre chama permanentemente a atenção de todos
nós, pois, pensando servir a Deus, podemos estar perseguindo-O, como Paulo.
João Wesley foi chamado de fanático, herege e falso religioso, e isso por
dirigentes da Igreja Anglicana. Um historiador anglicano, Dr. Smollet,
escrevendo sobre religião, acusou Wesley de impostura e fanatismo. João Wesley
o contestou com severidade. Muitas foram as perseguições, algumas violentas,
provocadas em vilas e cidades pelos párocos anglicanos.
b. “Quem és tu Senhor?” (At 9. 5).
Esta pergunta de Paulo a Jesus ilustra a tragédia que é pregar
e ensinar sobre Deus sem uma experiência pessoal com Ele. Discursos mecânicos e
sem vida falando de Deus, de salvação, do destino eterno da vida humana. Os
religiosos correm o risco de transformar a religião do Deus vivo num conjunto
de doutrinas, regras e rituais mortos; têm a aparência da religião, mas
falta-lhes o Deus vivo. Sua mensagem não aquece o coração, não transforma
vidas.
Disse Wesley: “Não tenho medo que o povo chamado metodista
deixe de existir na Europa ou na América. Somente receio que eles existam como
uma seita morta, tendo a forma de religião, mas não o poder dela; e isto
certamente será o caso se não conservarem a doutrina, a disciplina e o espírito
com que iniciaram a jornada”.
Paulo estava diante do Filho de Deus, a grande esperança
messiânica de todos os judeus, mas não o conhecia, não o percebia. Deus nos
livre de perdermos a sensibilidade e o discernimento do sentir a presença e a
direção pessoal de Deus.
c. “Ananias!... Eis-me aqui Senhor!” (At 9. 10)
Enquanto Paulo jejuava e orava, Deus chama Ananias. Esta
outra intervenção de Deus visava a entregar Paulo aos cuidados da Igreja cristã
em Damasco. Entendo que Ananias era o pastor da igreja, reconhecido pelo
próprio Senhor.
Aqui vemos a fragilidade em que uma liderança, escolhida por
Deus, pode incorrer. Deus envia Ananias até Paulo, a casa de Judas, na famosa
rua Direita. Ananias, em vez de obedecer de imediato, começa a contestar a
Deus: “... de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males que tem
feito aos teus santos... e para aqui trouxe autorização... para prender a todos
os que invocam o teu nome”. (At 9. 13-14). Este é o líder que há pouco tinha
dito: “Eis-me aqui, Senhor!” (At 9. 10).
Nossa disposição, como a de Ananias, esbarra em vários
preconceitos e barreiras: nem sempre estamos dispostos a correr riscos. A nossa
experiência com Deus só cresce em meio aos riscos e desafios, como exemplo,
temos os discípulos e o próprio apóstolo Paulo. Freqüentemente, como cristãos,
ou como igrejas, construímos barreiras e nos encerramos nelas, nada de fora é
bom, tudo nos ameaça, especialmente o novo. Precisamos estar abertos ao novo de
Deus, cheios do Espírito, para sabermos discernir o que é de Deus e do que é do
homem; e prontos a obedecer à voz de Deus.
d. “Saulo, irmão, o Senhor me enviou.” (At 9. 17).
Acho extremamente significativa esta expressão de Ananias
para Paulo. Ela expressa o poder do Evangelho, sim, o Evangelho no seu
significado mais profundo, que é o exercício do amor e da reconciliação. Aqui
estão dois ex-inimigos: Paulo tinha ido para prender e levar a condenação e
morte a Ananias e aos demais irmãos e irmãs da igreja em Damasco, da Síria. O
relato que começara com ameaças de morte, por parte de Paulo (At 9. 1), pela
interferência do poder do Deus vivo, faz com que Ananias, a quase vítima de
Paulo, se acerque dele e o chame de irmão.
Especialmente se nós recordarmos que Paulo representa o
Judaísmo, Israel, e Ananias representa a Síria, países em guerra desde tempos
antigos, e ainda hoje em guerra. Somente o poder do Evangelho, a experiência
com o Deus vivo muda o ódio em amor, a guerra em paz.
Paulo, a seguir, é curado e batizado, e torna-se um
discípulo de Jesus. Passa de uma religiosidade formal para uma experiência com
o Cristo ressuscitado, sempre presente. Graças a um confronto com o Deus vivo.
João Wesley confrontou sua nação com o Deus vivo, o qual ele
conhecia de encontros diários, face a face. O resultado foi um avivamento que
mudou a Inglaterra. Deus quer nos usar para mudar a nossa nação brasileira.
Deus pode contar contigo?
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