Costuma-se
dizer que o nome de Deus não aparece no livro de Ester.
A presença de Deus é mais importante que a simples menção de seu nome. Deus
está presente na história do povo judeu no livro que tem o nome de uma plebéia
estrangeira que se tornou esposa do rei Assuero, cujo império tinha cento e
vinte e sete províncias.
Há um detalhe muito significativo no primeiro versículo do capítulo três de
Ester: “Depois destas coisas, o rei
Assuero engrandeceu a Hamã, e o exaltou, e lhe pôs o trono acima de todos os
príncipes que estavam com ele”. O texto diz que Assuero engrandeceu a Hamã
depois de ter engrandecido a Ester, fazendo-a rainha e dando-lhe uma coroa,
apesar de sua condição humilde (a moça era uma exilada que perdera os pais na
infância e fora criada pelo primo Mordecai).
Embora
os dois livros anteriores — Esdras e Neemias — falem muito sobre casamentos
mistos, de judeus com não judeus, tem-se como providencial o casamento da jovem
judia com o monarca gentio. Era Deus agindo soberanamente. Além de casar-se com
Ester, Assuero a amou “mais do que a
todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que
todas as virgens” (Et 2.17).
Estava,
então, muito bem montada a providência por meio da qual Deus iria resguardar o
seu povo de uma tragédia coletiva pior que o Holocausto imposto pelo nazismo
durante a Segunda Grande Guerra.
Porque
o primo de Ester não se inclinava nem se prostrava diante do vaidoso Hamã, este
arquitetou o plano de mandar matar de vez todos os judeus, moços e velhos,
crianças e mulheres, e de lhes saquear os bens, em todas as cento e vinte e
sete províncias do vasto império, em um único dia, sob a alegação de que eles
tinham leis diferentes das leis de todos os povos
E enviaram-se as cartas
por intermédio dos correios a todas as províncias do rei, para que destruíssem,
matassem, e fizessem perecer a todos os judeus, desde o jovem até ao velho,
crianças e mulheres, em um mesmo dia, a treze do duodécimo mês (que é o mês de
Adar), e que saqueassem os seus bens. (Et 3.13).
Convencido
pelo astuto Hamã, Assuero deu o seu aval e ainda lhe emprestou o seu
anel-sinete, no qual havia gravações em alto-relevo para carimbar documentos oficiais Então tirou o rei o anel da sua mão, e o
deu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, adversário dos judeus. (Et 3.10).
O plano diabólico de Hamã daria certo se antes Deus não tivesse colocado uma
judia ao lado do rei. Graças à corajosa e inteligente atuação da rainha Ester,
o projeto fracassou e os milhares de judeus espalhados pelo império medo-persa
foram poupados, apesar do decreto real e de todas as medidas tomadas.
O Deus cujo nome não aparece em Ester é um Deus providente, que age antes dos
homens e antes da história. Acreditar neste Deus traz segurança, seja qual for
a circunstância contrária.
A
própria salvação do homem, por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo, foi
elaborada antes da queda do gênero humano, antes mesmo da fundação do mundo,
embora manifesta muito depois:
E, se invocais por Pai
aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em
temor, durante o tempo da vossa peregrinação, Sabendo que não foi com coisas
corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de
viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em
outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado
nestes últimos tempos por amor de vós; E por ele credes em Deus, que o
ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança
estivessem em Deus; (1
Pe 1.17-21).
FONTE: Retirado de
“Pastorais para o Terceiro Milênio” (Elben César).
Editora
Ultimato, 2000.
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